O presidente dos EUA, Barack Obama, disse em entrevista exibida na sexta-feira (23) que o aparente uso de armas químicas contra civis nesta semana na Síria foi "claramente um fato grande", mas que a resposta tem de ser cautelosa.
Em suas primeiras declarações desde o suposto ataque na madrugada de quarta-feira (22) nos subúrbios de Damasco, Obama salientou a importância de respeitar o direito internacional na resposta ao incidente, e disse estar preocupado com os custos humanos e financeiros de um eventual envolvimento norte-americano em conflitos externos.
"O que estamos vendo indica que se trata claramente de um fato grande, de grave preocupação", disse Obama à CNN.
Mas, confrontado com sua declaração de um ano atrás, quando disse que o uso de armas químicas no conflito sírio seria um limite intolerável para os EUA, Obama manifestou cautela.
"Se os EUA saírem atacando outro país sem um mandato da ONU e sem provas claras que possam ser apresentadas, então haverá dúvidas em termos de se o direito internacional ampara isso, se temos uma coalizão que faça isso funcionar, e, sabe, essas são considerações que precisamos levar em conta", afirmou o presidente.
"A noção de que os EUA podem de alguma forma resolver o que é um complexo problema sectário dentro da Síria é às vezes exagerada", acrescentou.
Obama fez um apelo para que o governo sírio autorize inspetores da ONU a investigar o incidente, mas admitiu que essa cooperação é improvável.
Ativistas sírios dizem que centenas de pessoas, inclusive muitas mulheres e crianças, morreram enquanto dormiam na quarta-feira, devido a ataques com gás venenoso em subúrbios de Damasco dominados por rebeldes. O governo de Bashar al-Assad nega ter usado armas químicas contra seus cidadãos, e alega que isso seria especialmente improvável num momento em que inspetores da ONU recém-chegados a Damasco se hospedam em um hotel a poucos quilômetros do local do suposto ataque.
Obama disse que será "muito perturbador" se o ataque químico ficar comprovado.
"Isso começa a chegar a alguns interesses nacionais centrais dos EUA, tanto em termos de garantirmos que as armas de destruição em massa não estão se proliferando, como também quanto à proteção dos nossos aliados, das nossas bases na região. Isso é algo que exigirá a atenção da América, e espero que a atenção de toda a comunidade internacional."
Falando sobre outra crise em um país estratégico, o Egito, Obama disse que a interrupção da ajuda às Forças Armadas do país provavelmente não influenciaria as ações do regime militar.
Obama foi pressionado por alguns parlamentares a suspender a ajuda militar anual de 1,3 bilhão de dólares ao Egito, como reação à violenta repressão do governo provisório aos partidários do presidente islâmico Mohamed Mursi, derrubado em julho.
"A ajuda em si pode não reverter o que o governo provisório faz. Mas acho que a maioria dos norte-americanos diria que precisamos tomar cuidado para não passarmos a impressão de estarmos ajudando e avalizando ações que contrariam os nossos valores e ideais."
Segundo ele, "não há dúvida de que não podemos voltar à normalidade (nas relações com o Egito), diante do que aconteceu."
Rússia e EUA querem investigação objetiva na Síria, diz Moscou
Rússia e Estados Unidos concordam com a necessidade de uma investigação objetiva sobre as alegações de que as tropas leais ao presidente sírio, Bashar al-Assad, lançaram um ataque com armas químicas, disse o Ministério das Relações Exteriores da Rússia nesta sexta-feira.
A chancelaria de Moscou também disse em um comunicado que a Rússia, principal aliada internacional de Assad em mais de dois anos de guerra civil, pediu ao governo sírio que autorize uma investigação por parte de uma missão de peritos da ONU.
"O lado russo pediu ao governo sírio a cooperação com os peritos químicos da ONU. Cabe agora à oposição, que deve garantir o acesso seguro para a missão ao alegado local do incidente", disse o ministério.
Moscou e Washington têm muitas vezes tomado posições opostas sobre a Síria, mas o ministério russo disse que o chanceler Sergei Lavrov e o secretário de Estado dos EUA, John Kerry, haviam concordado sobre a necessidade de uma investigação independente durante um telefonema na quinta-feira.
As autoridades sírias afirmam que as alegações contra suas forças são "ilógicas e fabricadas".
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