O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, lançou neste sábado (31) uma campanha para reduzir as emissões de carbono nas centrais termoelétricas do país. Ele destacou o impacto que as centrais têm na saúde. A direção de Proteção ao Meio Ambiente (EPA, em inglês) prevê fazer na segunda-feira (02) a maior aposta de Obama na luta contra a mudança climática, uma legislação para impor limites às emissões de carbono nas usinas de energia, que enfrenta uma forte oposição republicana e da indústria do carvão.
Para aplanar o caminho a esse anúncio, Obama decidiu pronunciar seu tradicional discurso dos sábados em um hospital de Washington que trata crianças com problemas respiratórios, a fim de vincular sua aposta energética não só com a luta contra a mudança climática, mas com uma política de saúde pública. "Pelo bem da saúde de todas nossas crianças, devemos tomar mais medidas para reduzir a poluição, que agrava os problemas respiratórios como a asma", assinalou Obama. "Não temos que escolher entre a saúde de nossa economia e a saúde de nossas crianças".
Na segunda-feira (02), o líder continuará com essa estratégia ao manter uma conferência telefônica com grupos de saúde pública, enquanto a diretora da EPA, Gina McCarthy, se encarregará de fazer o esperado anúncio sobre a redução de emissões. Obama justificou hoje o plano ao lembrar que cerca de 40% da poluição nos EUA provém das usinas de energia, e mesmo assim "não existem limites nacionais na quantidade de carbono que liberam ditas usinas no ar".
"Limitamos a quantidade de produtos químicos tóxicos, como o mercúrio, o sulfureto e o arsênico, que as usinas energéticas podem lançar ao ar e na água, mas podem emitir uma quantidade ilimitada de poluição de carbono sem pagar um centavo. Isso não é inteligente, não é seguro e não faz sentido", sentenciou.
A nova legislação é uma peça-chave na agenda de Obama na luta contra a mudança climática, uma das prioridades de seu segundo mandato, e na meta que marcou de reduzir em 17% as emissões de gases que ocasionam o efeito estufa para 2020, a respeito dos níveis de 2005.
Obama antecipou que o plano inclui uma série de medidas para reduzir a poluição e o "smog", um nevoeiro tóxico que contribui para má qualidade do ar, que provoca ataques de asma e doenças respiratórias, com particular incidência em crianças e idosos. "Só no primeiro ano que sejam adotados estes padrões, serão evitados quase 100 mil ataques de asma e 2.100 ataques de coração, e esses números seguirão subindo", assegurou.
A legislação da EPA permitia que cada estado fixasse sua combinação de fontes energéticas, segundo suas necessidades, assim como a criação de um mercado de troca de licenças de emissões. Está previsto que o plano comece a ser aplicado em junho de 2015, ou seja, um ano após seu anúncio na segunda-feira (02), após ter superado um período de revisão e comentários do público.
Espera-se que as regras não necessitem da aprovação do Congresso, mas enfrentarão a ferrenha oposição de republicanos como o líder do partido no Senado, Mitch McConnell, que já prometeu apresentar um projeto de lei para deter a legislação.
O senador republicano Mike Enzi também criticou hoje o plano de Obama, ao acusar sua Administração de "se dispor a acabar com (a indústria de) o carvão e seus 800 mil empregos". "Se a Administração tiver êxito em sua estratégia de 'morte por regulação', todos pagaremos muito mais dinheiro pela eletricidade, se pudermos consegui-la", assinalou Enzi em discurso de resposta republicana à mensagem semanal de Obama.
A Câmara de Comércio americano também expressou sua oposição à medida, ao prever que custará US$ 50 bilhões ao ano para economia e aumentará os custos da energia, um argumento que Obama rejeitou hoje. "Cada vez que os Estados Unidos dispôs regras claras e melhores padrões para o ar, a água e a saúde de nossas crianças, as advertências dos cínicos estiveram equivocadas", acrescentou.
Os principais grupos ambientalistas do país deram as boas-vindas ao novo plano, e um deles, o Conselho de Defesa dos Recursos Naturais, previu que, longe de resultar custosos, as mudanças suporão uma economia de US$ 37,4 bilhões para os consumidores uma vez que entrem em vigor totalmente em 2020.
Entre os americanos, 64% respalda a ampliação das restrições de emissões de carbono nas usinas de energia do país, segundo uma pesquisa publicada na quinta-feira pela Universidade de Yale.