Os países do Hemisfério Sul devem estar alertas para surtos do vírus H1N1, causador da chamada gripe suína. Com a temporada de influenza comum nessa região do globo - durante as estações mais frias - a Organização Mundial da Saúde (OMS) reforçou nesta quinta-feira (30), especificamente para esses países, a necessidade de cuidados e preparativos adicionais. "É possível que tenhamos um maior número de surtos do H1N1 ocorrendo de forma mais frequente no Sul do que no Norte. Teremos de acompanhar isso com muito cuidado", afirmou Keiji Fukuda, vice-diretor da OMS, agência vinculada às Nações Unidas. "Estamos chegando ao fim da temporada de gripe no Norte e a temporada vai começar no Sul. É importante que prestemos atenção no que ocorre no Sul", insistiu Fukuda.
O receio dos técnicos é que, se a doença de fato se alastrar pelos países em desenvolvimento, será mais difícil controlá-la por questões de infraestrutura, recursos e de procedimentos para distinguir uma gripe comum da nova gripe. Caso adquira ímpeto no Sul, o H1N1 poderia voltar a contaminar os países ricos, em um círculo vicioso. "Vamos aumentar o monitoramento nessas regiões. Em muitos locais, a escassez de recursos é muito grande", anunciou Fukuda.
Tendo alçado a preparação dos países em desenvolvimento a status prioritário, a entidade anunciou o envio de remédios e está negociando doações para suprir as necessidades de locais mais vulneráveis. Por enquanto, a avaliação é que, em países mais ricos, o impacto do vírus tem sido menor.
A Cruz Vermelha fez um apelo nesta quinta-feira (30) por US$ 4,4 milhões para atuar nos países mais pobres. A OMS enviou 2 milhões de doses de antivirais para emergentes. Uma lista de países sem estoque de antivirais e sem recursos para comprá-los está sendo produzida.
Mike Ryan, chefe de operações da OMS, confirmou que a entidade vai acompanhar o desenvolvimento do vírus no Sul. Mas admite que não sabe ainda qual será seu comportamento. "Não temos todas as informações ainda sobre o vírus."
Fukuda voltou a defender que banir viagens ao México ou aos EUA não seria eficiente. A União Europeia evitou decretar a interrupção de conexões aéreas com a região.
Transmissão sustentável
Nesta quinta, o número de casos de pessoas infectadas e que não viajaram ao México cresceu. Segundo Fukuda, há uma percepção de que o vírus está "cada vez mais estabelecido" e que passou a contaminar comunidades. O dirigente admitiu que fechar escolas ou prédios públicos, como ocorre no Mexico, pode alcançar o objetivo de evitar novas pessoas doentes naquela região. Mas não vai parar a circulação do vírus pelo mundo.
Estabilização no México
As autoridades mexicanas tentaram passar a ideia de que o número de casos já estava se estabilizando. Na OMS, ainda há dúvidas sobre isso. Cerca de 32 mil amostras de sangue de mexicanos ainda estariam esperando por testes laboratoriais nos Estados Unidos e no Canadá.
A organização ainda não descobriu por que o vírus está matando no México e sendo relativamente suave nos Estados Unidos e outros países ricos. Nem a idade nem diferenças no vírus explicariam a disparidade nos efeitos.
"Não sabemos ainda qual a proporção das pessoas afetadas que desenvolvem uma gripe severa. A realidade é que não podemos relaxar. Isso seria nosso maior erro. É cedo ainda para dizer se será uma pandemia leve. Se for o caso, melhor para todos. Mas temos de fazer todo o possível para nos preparar para o pior", disse Fukuda.
Demora
A agência de Saúde da ONU já começa a ser atacada por ter demorado a tomar medidas. Entre a primeira identificação do vírus no México e um comunicado oficial da OMS, 26 dias se passaram. Fukuda admitiu que quando foi atuar no caso, o H1N1 já tinha se espalhado em um território "grande demais para que pudéssemos detê-lo".
A Roche, que produz um antiviral que seria eficaz contra a doença, e a entidade passaram a negociar hoje um acordo para garantir preços mais baixos para países pobres - a fim de evitar pressão pela quebra de patente.
O alvo do debate é o Tamiflu, recomendado pela OMS. A reportagem apurou que a diretora-geral da OMS, Margaret Chan, já confessou a membros de seu gabinete que a quebra de patentes de remédios será tema crítico nos próximos dias. Enquanto isso, o mercado negro na Europa explode. O pacote de Tamiflu, que não custava mais de 20 (R$ 58), já custa 140 (R$ 404) em vendas pela internet. A automedicação é enfaticamente desaconselhada pelos especialistas, porque pode tornar o H1N1 mais resistente.
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