A antecipação das eleições prometida na terça-feira pelo governo egípcio não acalmou os manifestantes, que enfrentam a polícia pelo sexto dia na Praça Tahrir, e tampouco tranquilizou a comunidade internacional, atenta à nova explosão de violência no país. A alta comissária da ONU para Direitos Humanos, Navy Pillay, pediu nesta terça-feira uma investigação independente sobre as mortes nos recentes confrontos.
Segundo fontes médicas, mais de 30 pessoas já morreram desde o fim da semana passada e o número de feridos passa de 2 mil. Navy condenou o "claro uso excessivo da força" por parte das forças de segurança do Egito na repressão aos protestos, apontando para um possível uso indevido de gás lacrimogêneo e munição real.
"Eu exorto as autoridades egípcias a encerrar o claro uso excessivo da força contra os manifestantes na Praça Tahrir e em qualquer outro lugar no país, incluindo o aparente uso impróprio de gás lacrimogêneo, balas de borracha e munição real", disse, em comunicado, a comissária de Direitos Humanos.
Manifestantes denunciam que o gás usado pelas forças da junta militar é mais forte do que aquele empregado pelo regime de Hosni Mubarak durante os protestos de janeiro e fevereiro que levaram à renúncia do ditador. Há suspeita também de que o material seria de origem americana.
De acordo com testemunhas e médicos, a substância usada estaria sufocando os manifestantes e causando inflamação nos olhos. Relatos de desmaios também são comuns.
"Algumas das imagens vindo da Tahrir, incluindo a brutal agressão contra manifestantes já subjugados, são profundamente chocantes", diz a comissária da ONU na nota. "Deve haver uma investigação imediata, imparcial e independente, e responsabilização para aqueles que forem culpados pelos abusos deve ser assegurada", acrescenta.
Segundo testemunhas, os enfrentamentos desta quarta-feira se concentram nos arredores do ministério do Interior, próximo à Praça Tahrir. As forças de segurança alegam que os manifestantes planejam invadir o prédio, simbólo da repressão durante os anos de Mubarak no poder.
Ativistas negam que queiram entrar no ministério, e afirmam que a ação é uma tentativa de impedir a chegada de mais pessoas à Praça Tahrir. Um deles revelou nesta quarta que os policiais esperam até o dia amanhecer para atacar os manifestantes no local. Mohamed al-Abd disse ainda que a maioria dos manifestantes no Cairo tem objetivos pacíficos.
"As pessoas aqui são de bem, pessoas respeitávies. São médicos, engenheiros, eles tem nível superior e são cultos. Eles não são bandidos de jeito algum. Eu deixei o lugar de onde sou, Beheira, com objetivo de vir até aqui e ver com meus olhos se esses manifestantes estão certos ou errados", contou al-Abd.
Israel manifesta preocupação com relações com Egito
Os manifestantes pedem a renúncia imediata do chefe da junta, o marechal de campo Hussein Tantawi, que anunciou na terça-feira a antecipação das eleições presidenciais e confirmou que a primeira etapa da escolha do Parlamento será na próxima segunda.
Diante da instabilidade no Egito, Israel manifestou preocupação em relação ao futuro do tratado de país com o governo do Cairo. O ministro da Segurança Interna, Matan Vilnai, disse nesta manhã que o país está se preparando para uma possível vitória da Irmandade Muçulmana nas eleições parlamentares egípcias, marcadas para começar a principio neste domingo.
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