| Foto: FILIPPO MONTEFORTE/AFP

A Justiça italiana condenou nesta terça-feira (17) à prisão perpétua oito repressores sul-americanos, acusados do desaparecimento e morte de mais de 40 opositores no âmbito do Operação Condor, o pacto entre ditaduras dos anos 70 e 80 na América do Sul contra dissidentes.

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Os juízes da Terceira Corte de Roma também decidiram absolver outros 18 acusados, o que gerou decepção e raiva entre familiares e autoridades que assistiram à leitura da sentença na sala de segurança máxima da prisão romana de Rebibbia.

Entre os condenados estão dois bolivianos, três peruanos, dois chilenos e um uruguaio, todas autoridades reconhecidas da Operação Condor, o pacto para sequestrar e executar opositores, aplicado pelas ditaduras militares de Argentina, Uruguai, Bolívia, Peru e Chile. Embora isso não seja reconhecido oficialmente pelos militares, o Brasil teria participado da aliança.

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Entre os condenados à revelia estão os bolivianos Luis García Meza e Luis Arce Gómez, atualmente detidos em La Paz.

Também foram condenados à prisão perpétua os chilenos Hernán Jerónimo Ramírez e Rafael Ahumada Valderrama, e os peruanos Francisco Morales Bermúdez, Pedro Richter Prada e Germán Ruiz Figueroa.

Os juízes também pediram prisão perpétua para o uruguaio Juan Carlos Blanco, ex-ministro de Relações Exteriores, condenado pela morte de Alvaro Daniel Banfi, metralhado junto com outros militantes de esquerda em outubro de 1974 perto de Buenos Aires, Argentina.

A maioria dos absolvidos é de uruguaios, militares, agentes dos serviços secretos aos quais a Justiça italiana considera não haver provas suficientes de que cometeram os crimes pelos quais são julgados.

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Após cinco horas de deliberações, os cerca de dez juízes populares decretaram a absolvição também do capitão da Marinha Jorge Néstor Troccoli, único dos acusados residente na Itália, que não compareceu à leitura da sentença.

Transtorno e dor

”Não tenho palavras para comentar uma sentença como esta. Depois de uma luta tão longa, os juízes não reconheceram a responsabilidade individual dos acusados. Um critério muito discutível. Vamos apresentar recurso”, afirmou, desconcertada e com lágrimas nos olhos, Cristina Mihura, viúva do desaparecido ítalo-uruguaio Armando Bernardo Arnone Hernández.

“Por meu caso estou comovida, finalmente consegui uma condenação. Pelos demais, estou transtornada”, reconheceu Aurora Melloni, uma das ítalo-uruguaias que iniciaram a batalha há mais de quinze anos para conseguir Justiça para seus familiares.

A primeira sentença na Europa sobre o brutal dispositivo usado para sequestrar opositores, torturá-los, executá-los ou entregá-los para seus países de origem foi recebida com um silêncio comovedor.

“O que mais nos surpreendeu foi a absolvição por insuficiência de provas de Tróccoli. Terei que ler a sentença com atenção”, reconheceu a procuradora do caso Tiziana Cugini, que solicitou 27 condenações e uma absolvição.

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Ao final de dois anos e 60 audiências, durante as quais compareceram testemunhas, especialistas, familiares e companheiros de prisão das vítimas, os juízes da Terceira Corte de Roma emitiram uma sentença polêmica.

Entre as mais indignadas com a sentença está a neta recuperada argentina Victoria Moyano Artigas.

“É uma vergonha o que está acontecendo. Não queremos mais impunidade. Viemos buscar respostas e pedir condenações para os genocidas. Estou indignada. Viajei milhares de quilômetros para obter uma condenação, porque meus pais estão desaparecidos. Mas vou continuar lutando”, assegurou a argentina de 39 anos, testemunha no julgamento, após o veredito.

O vice-presidente uruguaio, Raúl Sendic, que viajou para a Itália para assistir a sentença, também manifestou sua decepção.

“Esperávamos outra coisa. Nos sentimos desapontados. Era uma possibilidade, sabíamos que podia acontecer. Não posso julgar o tribunal, nós reconhecemos a independência dos poderes. Não estou em condições de avaliar os elementos pelos quais chegaram a essa sentença. Temos a tranquilidade de ter feito todo o possível”, declarou à imprensa.

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“Entendo a dor, há muita dor acumulada ao longo dos anos. Conheço de perto a situação. Entendo a indignação e a dor, mas não posso julgar o tribunal que chegou a essa sentença”, afirmou Sendic, filho do líder histórico dos Tupamaros, que cresceu vendo seu pai sendo preso durante a ditadura.