A França começou a desmantelar na manhã desta segunda-feira (24) a chamada “selva de Calais”, imenso acampamento onde se concentram milhares de migrantes, com o que espera virar a página deste símbolo da crise migratória que afeta a Europa.
As primeiras mulheres, crianças e doentes dos cerca de 8 mil migrantes chegados majoritariamente do Afeganistão, Sudão e Eritreia, se apresentaram com seus pertences no hangar utilizado como base de operações. De lá, pegam os ônibus que os levarão para 451 centros de acolhida espalhados por todo o território francês.
Um primeiro ônibus com 50 sudaneses a bordo partiu menos de uma hora depois do início oficial da operação.
No total, entre 6 mil e 8 mil migrantes serão evacuados em uma operação que vai durar a semana toda. Cerca de 1.250 policiais foram mobilizados para garantir o bom desenvolvimento da operação.
O primeiro na fila, um sudanês de 25 anos, afirmou que “qualquer lugar da França será melhor do que Calais”.
Por outro lado, Mohamed, um etíope, é mais cético. “Quero ir para o Reino Unido, não me interessa embarcar nesses ônibus”.
Homens, mulheres e crianças convivem há meses neste acampamento precário.
O governo francês anunciou no fim de setembro o desmantelamento do acampamento que, com a insegurança e a revolta que gera entre a população local, se transformou num ponto delicado que envenena o debate na França em torno da imigração, seis meses antes das eleições presidenciais. Simboliza também a impotência da Europa frente à pior crise migratória desde a Segunda Guerra Mundial.
As autoridades começaram a distribuir folhetos em vários idiomas para explicar a operação, apresentada como humanitária, e tentar convencer os mais reticentes.
“Ainda é preciso convencer algumas pessoas”, admitiu Didier Leschi, diretor-geral do Escritório Francês de Imigração.
Vários migrantes abandonaram o acampamento nos últimos dias para não se afastar da região e continuar tentando cruzar o Canal da Mancha.
Operação delicada
Alguns povoados franceses expressaram seu desacordo com o plano de repartição imposto pelo executivo, e vários membros da oposição de direita aludiram ao risco de criar vários “mini-Calais” em todo o país.
“Acolher nestas localidades 30, 40 pessoas me parece o mínimo. É preciso ter respeito e humanidade para com os migrantes”, declarou o ministro das Cidades, Patrick Kanner.
Além da logística complexa, a operação é delicada do ponto de vista de segurança. Na noite de domingo (23), por exemplo, ocorreram confrontos perto do acampamento e a polícia precisou lançar bombas de gás lacrimogêneo.
A operação que põe fim ao acampamento permitiu reunir uma parte dos 1,3 mil menores não acompanhados que viviam na “Selva”. O governo britânico acelerou os procedimentos para acolher estas crianças e adolescentes, dos quais cerca de 500 têm famílias no Reino Unido.
Mais de um milhão de pessoas que fogem da guerra e da pobreza na África e no Oriente Médio chegaram à Europa em 2015, semeando divisões entre os 28 países da União Europeia (EU) e alimentando a ascensão dos partidos de extrema-direita.
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