“Pelo que fizemos. Pelo que falta”, diz cartaz de apoio a Cristina Kirchner, em rua de Buenos Aires| Foto: Marcos Brindicci/Reuters

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Caso entra em terreno minado da política e da economia

Dimas Floriani, coordenador acadêmico da Casa Latino-Americana, em Curitiba.

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Disputa

Economistas veem poucas chances de decisão favorável à Repsol

Apesar de a Comissão Europeia ter afirmado ontem já estudar retaliações e de a Repsol ter repetido publicamente sua "confiança nos tribunais internacionais", economistas e diplomatas seguem descrentes em uma resolução favorável à petroleira – que, sem a subsidiária argentina, perde 25% de sua receita.

Tanto a reestatização ser revertida como o governo argentino concordar em pagar os US$ 10,5 bilhões exigidos pela companhia espanhola – baseados em uma conta interna com a ação da YPF a US$ 46,55, quando o papel já caiu para US$ 13,32 – são cenários vistos como improváveis.

A empresa disse que recorrerá ao tribunal de arbitragem do Banco Mundial – em que um quarto dos casos já é contra a Argentina.

Em geral, 40% são resolvidos antes da decisão final – como ocorreu, no mês passado, com a venezuelana PDVSA e duas petroleiras norte-americanas nacionalizadas em 2009; elas queriam US$ 1,2 bilhão, mas aceitaram 35%.

"Tudo vai depender da habilidade de empresas e investidores argentinos convencerem o governo de que ele deu um passo suicida", diz o economista espanhol Fernando Fernández, professor do Instituto Empresa, em Madri.

Embora tenha feito o risco-país da Argentina superar os mil pontos, o projeto de lei que determina a expropriação da petroleira YPF, subsidiária da espanhola Repsol, obteve ontem importante apoio no Senado, com a adesão de líderes da oposição.

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A proposta ganhou o aval necessário para ser finalmente aprovada na semana que vem, virando lei em meados de maio.

Membros de partidos tradicionais da oposição, como a União Cívica Radical (UCR) e a socialista Frente Ampla Progressista, se somaram ao projeto, somando 59 votos, dos 72 possíveis.

Também foi anunciada a inclusão, na lei, da expropriação da YPF Gas, outra empresa do grupo.

Ações despencam

A repercussão negativa da notícia, porém, fez com que, no final do dia, as ações da empresa caíssem 27,87% na bolsa de Buenos Aires, e 32,7% em Nova York. O jornal Wall Street Journal publicou um editorial em que chama a nacionalização de "roubo", e disse que apenas o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, tinha aplaudido. Chegou ainda a propor que a Argentina fosse expulsa do G-20.

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Segundo o jornal espanhol El País, a nacionalização coloca também fim numa negociação que estava sendo feita entre a Repsol e a chinesa Sinopec para um investimento na empresa.

Para Milagros Gismondi, do escritório Orlando Ferreres, a expropriação da YPF não deve assustar investidores internacionais. "É um caso particular, por se tratar de uma área estratégica e que está ligada a um setor que está passando por uma situação delicada, como o energético. O governo não deve expandir essa ação para outras áreas", disse.

O governo dos EUA manifestou sua preocupação com o projeto de lei do governo argentino. "Francamente, quanto mais analisamos isso, mais o vemos como um acontecimento negativo", disse o funcionário do Departamento de Estado, Mark Toner, que chamou a atenção também para o "desestímulo" aos investimentos estrangeiros no país.

Brasil

O ministro Antonio Pa­­trio­­ta (Relações Exteriores) evitou polemizar sobre a decisão argentina. Questionado sobre o impacto da medida sobre as empresas brasileiras no país vizinho, ele afirmou que a pasta está "monitorando a situação" delas.

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"É uma decisão sobera­­na argen­­tina. (...) Acom­­pa­­nha­­re­­mos de perto os desenvolvimentos dessa história, que obviamente nos interessa muito", afirmou o ministro.