Centenas de manifestantes da Bielorrússia saíram às ruas pelo quarto dia consecutivo de protestos em meio a um arriscado jogo de nervos com o presidente Alexander Lukashenko, cuja reeleição teria sido fraudulenta.
O candidato da oposição derrotado no pleito de domingo conclamou seus simpatizantes a acamparem na praça central de Minsk a fim de realizar um protesto de grandes dimensões no sábado e exigir a repetição do processo.
Mas o oposicionista reconheceu que as manifestações não seriam suficientes para tirar do poder o dirigente de 51 anos que defende políticas ao estilo soviético e que é popular no país.
- Não acredito que um protesto do tipo possa tirar do poder o ditador - afirmou Alexander Milinkevich em uma visita à Praça Outubro, onde se reuniram grupos formados principalmente por jovens.
A manifestação de sábado, data em que o país comemora o dia da independência da República Bielorrussa em 1918, pretendia mostrar que os moradores do país estavam ouvindo outras vozes que não as do governo, disse.
Os protestos, algo raro na Bielorrússia - uma ex-república soviética cujos serviços de segurança costumam agir rapidamente para reprimir os dissidentes -, começaram no domingo, depois de Lukashenko ter sido anunciado como o vencedor de uma eleição considerada injusta e irregular por monitores independentes.
Lukashenko, há 12 anos no poder e criticado pela oposição e pelo Ocidente, obteve, de acordo com os números oficiais, 82,6% dos votos, segundo a contagem oficial. Milinkevich, que ficou em segundo lugar com 6% dos votos, considerou o pleito uma fraude.
Centenas de manifestantes, que devem se transformar em milhares à noite, mantiveram uma vigília ininterrupta na praça. Muitos deles estranhavam a tolerância das autoridades.
- Sinceramente, estou surpreso com o fato de as autoridades não terem reprimido a manifestação ainda - afirmou Galina, uma estudante de 21 anos de idade.
Mas há temores de que a polícia entre em ação.
- Dissemos aos policiais que ficaríamos aqui até o dia 25 - afirmou Yuri, também estudante de 21 anos. - 'Vocês não vão sobreviver até lá', responderam os policiais - emendou.
Mais tarde, uma importante autoridade das forças de segurança reuniu repórteres no local dos protestos para lhes dizer que não estava planejado nenhum tipo de repressão.
Os protestos na Bielorrússia lembram a "Revolução Laranja", que levou centenas de milhares de manifestantes às ruas de cidades da Ucrânia e derrubou o governo daquele país. Mas não há sinais de que a mobilização em Minsk atinja as mesmas proporções.
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