A eleição legislativa de domingo marca o retorno da oposição à cena política da Venezuela. Os opositores de Chávez tinham pouquíssimos representantes no Parlamento desde 2005 (veja quadro), quando decidiram de última hora não concorrer ao pleito. Neste ano, porém, a oposição não apenas permaneceu na disputa, como também foi responsável por mais uma derrota eleitoral para Hugo Chávez: a perda da maioria qualificada, relativa a 2/3 das vagas do Parlamento. É um revés que se segue à vitória do "não" em referendo de conteúdo chavista votado em 2007.
Sem a maioria qualificada no Legislativo, o mandatário não terá forças plenas para a aprovação das medidas necessárias às reformas constitucionais. Como consequência, precisará negociar.
Para o jornalista Teodoro Petkoff, ex-candidato à Presidência e um dos intelectuais mais respeitados do país, a oposição terá maior capacidade de ação e reação a partir de agora. A avaliação de Petkoff coincide com a de muitos analistas da Venezuela, que consideram a consolidação da Mesa de Unidade Democrática (MUD), a aliança eleitoral da oposição, condição sine qua non para que possa ser construída uma alternativa de poder com reais chances de vencer as presidenciais de 2012.
A grande dúvida, agora, é saber quais serão os planos e projetos apresentados pela oposição e como ela se portará. "A oposição é uma novidade na Venezuela e pode vir a ser acometida, num primeiro momento, de um certo infantilismo. Mas ela está se rearticulando e pode desenvolver identidade própria, que a ajude a avançar nas próximas eleições", disse à Gazeta do Povo Dimas Floriani, professor do departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e coordenador acadêmico da Casa Latino-Americana (Casla).
E a base eleitoral opositora deverá crescer nos próximos dois anos, na opinião de Ramón Guillermo Aveledo, porta-voz da coligação MUD. Isso tornaria mais acirrada a disputa presidencial de 2012. "O que ficou demonstrado é que o país tem uma alternativa que se formou graças à convergência e à unidade de gente muito diferente", afirmou Aveledo aos órgãos de imprensa internacionais.
Repercussão
Alguns dos mais influentes e importantes jornais do mundo, como El País (Espanha), The Guardian (Reino Unido) e The New York Times (EUA) repercutiram a ascensão dos opositores de Chávez no Legislativo e trataram o fato com um marco histórico para a Venezuela. Conforme o El País a quem Chávez classificou ontem como "jornal nazista da Espanha" , o ressurgimento da oposição na Venezuela "sem dúvida coloca um sério obstáculo para o projeto do presidente".
Para Javier Biardeau, professor da Universidade Central da Venezuela, o resultado das eleições legislativas traz à tona um panorama ainda mais preocupante e muito similar àquele existente em 2002, quando Chávez foi alvo de um golpe que o levou à prisão por 3 dias e culminou em greves e marchas violentas. Segundo ele, o embate político pode novamente levar a convulsões sociais.
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