Países do Oriente Médio tiveram novos violentos confrontos de rua nesta sexta-feira (18) durante protestos populares contra governos totalitários, inspirados pela recente queda dos regimes do Egito e da Tunísia.
No Iêmen, uma granada explodiu durante manifestação na cidade de Taiz, matando duas pessoas e deixando outras feridas. Outras três pessoas morreram em protestos na cidade portária de Aden.
Na Líbia, onde o número de mortos é calculado em 24 pela organização Human Rights Watch, o Exército tomou as ruas da cidade de Benghazi para controlar os manifestantes contrários ao regime de Muamar Kadafi, coronel que está no poder desde 1969.
Os comitês revolucionários, pilares do regime, ameaçaram os manifestantes oposicionistas com uma resposta "violenta e fulminante".
Guardas da prisão líbia de El Yedaida, perto da capital, Trípoli, mataram três presos que tentavam fugir, informou uma fonte das forças de segurança.
Mais cedo, uma fuga em massa de prisioneiros foi registrada em uma penitenciária de Benghazi, a 1.000 km de Trípoli, após uma rebelião.
Egito
Os atos são inspirados nas revoltas populares que derrubaram os governos da Tunísia e do Egito e que se espalham por países muçulmanos de regime autocrático nos últimos dias, muitas vezes inspirados por ativistas que usam a internet para organizar e divulgar os protestos.
No Egito, uma grande festa na Praça Tahrir, no centro do Cairo, celebrou uma semana sem o presidente Hosni Mubarak, que caiu depois de 18 dias de protestos de rua de ter controlado o país ao longo de quase 30 anos.
Ele renunciou deixando o poder nas mãos de uma junta militar que prometeu garnatir a ordem e fazer a transição do país para a democracia em um prazo de seis meses.
O ato -uma homenagem aos pelo menos 365 mortos durante a repressão policial aos protestos- foi pacífico e encarado como uma pressão da oposição sobre o Exército em relação à maneira como ocorre a transição democrática.
Bahrein
No Bahrein, país aliado dos EUA, milhares de pessoas compareceram nesta sexta ao funeral de dois xiitas mortos pela violenta repressão policial a uma manifestação contra o governo na capital Manama, na véspera.
Políciais atiraram e lançaram gás contra manifestantes em novos confrontos nesta sexta na capital. Pelo menos 23 pessoas ficaram feridas, segundo o ex-parlamentar xiita Jalal Firooz.
O príncipe herdeiro, considerado um reformista, pediu calma, afirmando que está na "hora do diálogo, não de lutas".
"O diálogo está sempre aberto, e as reformas continuam', disse o príncipe herdeiro xeque Salman bin Hamad al-Khalifa à TV. "Esta terra é para todos os cidadãos do Bahrein... Todas as pessoas honestas devem dizer 'basta' neste momento."
O Bahrein, pequeno arquipiélago do Golfo com um milhão de habitantes, é governado por uma dinastia sunita, embora a maioria de sua população seja formada por muçulmanos xiitas.
A repressão policial aos protestos deixou três mortos e 200 feridos, de acordo com as autoridades, e quatro mortos segundo a oposição xiita.
Ao todo, cinco pessoas já morreram desde segunda, quando tiveram início as manifestações, segundo fontes oficiais.
A secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, pediu na quinta-feira moderação à polícia e às partes envolvidas.
Jordânia e Omã
Pelo menos oito pessoas ficaram feridas nesta sexta em Amã, capital da Jordânia, quando defensores do governo atacaram centenas de jovens que participavam de uma manifestação para pedir reformas políticas, informaram um médico e várias testemunhas.
Estes são os primeiros confrontos violentos desde o início do movimento de protestos políticos e sociais no país, há algumas semanas, e que obrigaram o Rei Abdullah a reformar o governo.
Em Omã, cerca de 300 pessoas, incluindo várias mulheres, se manifestaram pacificamente no centro de Mascate para pedir aumento salarial e reformas políticas.
Os participantes da passeata, a segunda deste tipo em um mês no país, percorreram a avenida da capital que abriga os prédios dos principais ministérios, carregando cartazes com dizeres como "Parem o aumento de preços!", "Aumentem os salários!" e "Autorizem os bancos islâmicos!".
Apesar dos protestos, os manifestantes juraram lealdade ao sultão Qabus bin Said al-Said, que governa o país.
Liga Árabe
O secretário-geral da Liga Árabe, Amr Mussa, disse nessa sexta que o grupo não recebeu nenhuma solicitação formal para o adiamento da cúpula planejada para março no Iraque. A declaração dele contradiz uma informação dada pelo governo da Líbia.
O evento, em 29 de março, é considerado crucial para a reintegração do Iraque ao mundo árabe, mas ocorre num momento crítico para a região, depois dos protestos que derrubaram os governos da Tunísia e do Egito.
A Jana, agência oficial de notícias da Líbia, disse que "circunstâncias na região árabe" haviam motivado o adiamento da cúpula.
Questionado sobre isso pela Reuters, Mussa respondeu: "Não recebi nenhuma solicitação formal".
O principal objetivo do Iraque na cúpula é tranquilizar seus vizinhos.
Muitos governos árabes sunitas veem com desconfiança a ascensão ao poder da maioria xiita do Iraque, e temem que isso amplie a influência regional do Irã, um país xiita e não-árabe.
O sucesso da cúpula em tese ajudaria o Iraque a se reafirmar como um país árabe relevante, e poderia reduzir o apoio tácito de alguns países árabes à insurgência sunita - que, nos últimos anos, foi sensivelmente enfraquecida, mas continua agindo com violência.
O egípcio Mussa havia dito no mês passado numa cúpula em Sharm el Sheikh - balneário do mar Vermelho onde o ditador Hosni Mubarak se refugiou ao ser deposto - que a ira dos cidadãos árabes com os problemas políticos e econômicos atingiu níveis sem precedentes.
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