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Na Baixa Idade Média, marcada por tensões entre Igreja, Estado e bispos, uma doutrina tornou-se popular e quase virou ensinamento católico: os concílios seriam a autoridade suprema da Igreja – à qual até o Papa teria de se submeter, explica Johannes Grohe, professor de História da Idéia Conciliar na Pontifícia Universidade da Santa Cruz, em Roma. Os grandes defensores desta corrente, chamada "conciliarista", foram Guilherme de Ockham (c.1280-1349) e Marsílio de Pádua (c.1270-1342). "Para Marsílio, o poder secular estava no povo e o poder eclesiástico, nos fiéis. O concílio, como representante desta comunidade, teria o poder supremo na Igreja", diz. Ockham acrescentou que o concílio poderia julgar e até depor um Papa.

A tese conciliarista ganhou força durante os últimos anos do Cisma do Ocidente (1378-1417), quando chegou a haver, ao mesmo tempo, três pretendentes ao papado. O Concílio de Constança (1414-1418), convocado para resolver a questão, chegou a promulgar um decreto atribuindo a si a autoridade suprema. Os três candidatos renunciaram ou foram depostos, e Martinho V assumiu o papado, acabando com o cisma. "Este é um decreto disciplinar válido para situações extraordinárias como essa, mas não tem poder dogmático de alterar a estrutura da Igreja", explica Grohe. O próprio Martinho V trabalhou para sufocar o conciliarismo.

No Vaticano II, teólogos como Hans Küng quiseram ressuscitar as teses conciliaristas, mas o concílio explicitou que o colégio episcopal não tem autoridade sem o Papa como sua cabeça. "A Teologia da Libertação, no entanto, embora queira introduzir elementos da democracia de base na Igreja, não parece ter como ponto de partida as teses conciliaristas", avalia Grohe. (MAC)

Leia amanh㠖 O dia-a-dia do Concílio Vaticano II: discursos em latim, reuniões, momentos de lazer e "causos" dos bispos.

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