A palavra “idiota” está desfrutando uma espécie de renascimento. Buscar por “Donald Trump idiota” no Google devolve quase 10 milhões de resultados, e o epíteto se tornou uma presença regular na mídia nacional. Um recente artigo de opinião no New York Times atacou os “agentes da idiocracia”, enquanto uma manchete do site Salon perguntou “Quem são esses idiotas que apoiam Donald Trump?”
Celebridades desde Judd Apatow até Cher denunciaram Trump como sendo um idiota, e mesmo dados de pesquisas eleitorais foram usados para afirmar que seus apoiadores são idiotas. É totalmente verdadeiro que a os Estados Unidos estão cheio de idiotas – mas não no sentido usual da palavra.
Entenda a origem da palavra idiota
Um foco maldoso na ausência de inteligência agora define tanto a palavra de língua inglesa “idiot” quanto muitas caracterizações recentes de vastos setores do público americano. Mas imagine um termo que ao invés disso designe pessoas que são excessivamente comprometidas com suas próprias vantagens privadas. O mapa da idiotia americana mudaria dramaticamente.
Idiota nº 1: não-voto
Um primeiro grupo de idiotas englobaria aqueles que não votaram. Essa categoria atravessa o espectro político – pessoas de todas as persuasões políticas rejeitaram o arquetípico gesto de engajamento público. As consequências desse míope foco no privado podem não parecer tão terríveis quanto aquelas sugeridas por Heródoto, que lembra da astúcia ao olhar para os próprios interesses – não votar é uma escolha moral de privilegiar o privado ao público. É uma maneira de fazer mal a um grupo mais amplo.
Idiota nº 2: interesse restrito
Um segundo grupo de idiotas é aquele cujas pessoas votaram com base em interesses estreitos e sectários. Esse grupo também embaralha as categorias tradicionais: ao menos alguns dos apoiadores de Trump e de Hillary Clinton foram motivados a apoiar seu candidato pela perspectiva de algum benefício particular a uma categoria pequena com a qual se identificam – uma alíquota de imposto, uma indústria, um grupo religioso ou ideológico. Vale perguntar se mais apoiadores de um candidato ou do outro se encaixam nessa categoria de idiotas, mas ela inclui apoiadores dos dois maiores partidos.
Idiota n° 3: usam o público para se beneficiar
Um terceiro grupo de idiotas é aquele que usam um cargo público para ganhos privados. Trump e muitos de seus indicados mostram todos os indícios de pertencerem a esse grupo. Algumas estimativas colocaram o valor total do gabinete de Trump em cerca de US$ 35 bilhões. Isso sugere um grupo de pessoas que gastaram suas vidas em uma idiotia violentamente bem sucedida. Um problema com os extensivos interesses de negócios internacionais de Trump é que ele não consegue facilmente esclarecer a natureza de seus encontros com líderes estrangeiros.
Idiota nº 4: pode ser até você
A última categoria de idiotas inclui potencialmente todo mundo. As origens antigas da palavra sublinham o fato de que seres humanos são atores políticos imperfeitos, frequentemente partidos entre as conflitantes atrações dos bens privados e públicos. Também nos lembra que a sobrevivência política depende de calibrar com sucesso a ponderação de interesses públicos e privados. As ameaças, características do século XXI, da mudança climática, da desigualdade global e do extremismo, combinadas com o instantâneo desdobrar de impactos por meio de países, ecossistemas e mercados financeiros, tornam o autointeresse provinciano menos sustentável do que em qualquer momento do passado. Há muitas maneiras de se evitar o ímpeto do paroquial: doar dinheiro e tempo para instituições de caridade confiáveis; organizar-se politicamente e pressionar detentores de cargos eletivos em todos os níveis de governo; assinar um jornal; urgir seus empregadores a fazerem decisões de negócios éticas. Mas se acomodar, ignorar a esfera pública, mudar-se para o Canadá – isso é idiotia em todos os sentidos da palavra.
Mas qual a origem da palavra?
O termo “idiota” vem do grego antigo “idios” – um adjetivo frequentemente traduzido como “pessoal” ou “privado”. O mais antigo uso registrado da palavra ocorreu na “Odisseia”, de Homero. Quando o filho de Ulisses, Telêmaco, encontra o velho guerreiro Nestor, ele diz que veio por uma questão pessoal – para buscar informações sobre seu pai – e não com um propósito que dizia respeito ao povo de Ítaca, seu lar. A distinção é importante o suficiente a ponto de esclarecer a natureza de sua visita de imediato.
Conforme o exército persa invadia a Grécia em 490 a.C., eles sitiaram a pequena cidade de Eritreia, na ilha de Eubeia. Em troca de “vantagens privadas”, um pequeno grupo de nobres traiu a cidade entregando-a aos persas. A palavra que o historiador grego Heródoto usou para adjetivar “vantagens” é “idios”. O prospecto de enriquecimento privado induziu uma parcela de cidadãos já ricos a aceitar subornos dos persas e minar as defesas de sua própria cidade. O cerco foi quebrado, a cidade tomada e a população escravizada.
O significado original localizava uma posição no espectro público-privado, não um ranqueamento em uma escala de inteligência. De fato, como a história de Heródoto sugere, aqueles que priorizam o privado podem ser bem astutos.
O termo “idios” também aparece em um momento climático da “História da Guerra do Peloponeso” de Tucídides. Conforme o estadista ateniense Péricles profere sua oração fúnebre no túmulo comum de soldados atenienses mortos lutando contra os espartanos, ele exorta sua audiência a parar de lamentar “aflições privadas” e em vez disso se voltar para a segurança da comunidade. Aqui, luto privado em vez de ganho privado ameaça o bem estar do grupo mais amplo, mas a passagem novamente sublinha o significado político da idiotia como uma força que ameaça o bem comum.
Platão e outros autores antigos usavam a palavra “idios” para distinguir entre os níveis de conhecimento de leigos e especialistas. Seu significado eventualmente mudou de uma neutra designação de um indivíduo privado ignorante em um domínio particular – tal como medicina ou a arte da guerra – para uma condenação geral da inteligência de um indivíduo.
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