Chávez: decisão do Mercosul de incorporar a Venezuela é histórica
O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, comemorou nesta sexta-feira a decisão dos presidentes do Mercosul, que aceitaram o seu país como membro pleno do bloco a partir de 31 de julho, afirmando que este é um "dia histórico" que "terá ressonância geopolítica".
"É um dia histórico, é preciso comemorá-lo, 29 de junho, um dia para a história da integração (...) é uma lição de ética, uma lição de política verdadeira para esses enclaves autoritários que ainda existem na América Latina", disse Chávez ao canal Telesur.
A União de Nações Sul-americanas (Unasul) suspendeu nesta sexta-feira (29) o Paraguai do bloco, anunciou o chanceler argentino Héctor Timerman, porta-voz da cúpula de Mendoza. Também nesta sexta, os países membros do Mercosul decidiram afastar o país do bloco até as eleições presidenciais em 2013. A medida foi adotada depois que Congresso paraguaio destituiu o presidente Fernando Lugo.
A Unasul é formada por 12 países, inclusive o Paraguai, suspenso. "Hoje as chefas e chefes de Estado da Unasul resolveram suspender o Paraguai (do bloco) até que se restabeleça a ordem democrática neste país", disse Timerman ao informar o resultado da cúpula.
Timerman disse que "a Unasul também, como o Mercosul, está preocupada com o Paraguai e que não se repita em outros países, depois do que aconteceu em Equador, Bolívia e Honduras. É importante dar testemunho do que aconteceu".
A suspensão do Paraguai do Mercosul permitiu que Argentina, Brasil e Uruguai decidissem pela entrada da Venezuela no bloco. O país de Hugo Chávez se tornará o quinto membro pleno do Mercosul no fim de julho, afirmou a Argentina nesta sexta-feira, somando as maiores reservas mundiais de petróleo a uma área integrada por alguns dos principais produtores globais de alimentos, enquanto o Paraguai permanecerá suspenso até 2013.
A adesão, que segundo analistas evidencia outra vez a perda de poder relativo dos Estados Unidos na América do Sul, foi anunciada pela presidente argentina, Cristina Kirchner, no fim da cúpula de mandatários do bloco integrado também por Brasil, Uruguai e Paraguai.
"Também foi decidido adotar a resolução de fixar a data para a incorporação ao Mercosul da República Bolivariana da Venezuela que acontecerá em 31 de julho no Rio de Janeiro", disse a presidente na cúpula realizada em Mendoza, na Argentina.
O Paraguai, que não será alvo de sanções comerciais, não recuperará a sua participação no bloco "até que aconteça o processo democrático que instale justamente nesse querido país a soberania popular, ou seja, eleições livres e democráticas", disse Cristina. O Paraguai terá eleições gerais em abril de 2013.
A Venezuela, integrante da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) estava pronta há mais de seis anos para ingressar no bloco econômico sul-americano, mas o Congresso paraguaio mantinha essa possibilidade bloqueada.
Chávez comemorou a decisão, garantindo que constitui "uma derrota para o imperialismo" e "burguesias lacaias, incluindo a burguesia venezuelana que também conectada com a burguesia do Paraguai fez todo o possível para impedir a entrada da Venezuela no bloco".
O Paraguai rejeitou a decisão de o Mercosul admitir a Venezuela. "O governo deplora que outros Estados tenham sancionado o governo e o Estado paraguaio para incorporar um novo membro", disse em Assunção o chanceler do Paraguai, José Felix Fernández Estigarribia.
A presidente Dilma Rousseff disse que espera que as eleições paraguaias sejam "democráticas, livres e justas".Ela acrescentou que o Mercosul ainda é "uma das regiões do mundo menos afetadas pela crise" econômica global. Também indicou que no mundo "a segurança alimentar e energética têm cada vez mais relevância".
Sinal poderoso, mas polêmico Um diplomata da região disse à Reuters que com a Venezuela, o bloco incorporará uma economia de peso, fortemente demandante e importadora de todo tipo de bens, especialmente alimentos, e serviços, o que tornará sua economia mais conectada com Brasil e Argentina.
A secretária-executiva da Comissão Econômica para América Latina e o Caribe (Cepal), Alicia Bárcena, considerou a adesão venezuelana ao Mercosul como um sinal muito poderoso.
"O Mercosul tem um terço das reservas de água do mundo, um terço das terras cultiváveis, mais de 45 por cento da produção de soja. É uma região muito forte e agora com a integração da Venezuela há expectativa que a integração energética possa ser maior no futuro", disse Bárcena.
O analista internacional Jorge Castro, do Instituto de Planejamento Estratégico da Argentina, considerou que o anúncio da incorporação da Venezuela põe novamente em evidência a perda de poder relativo dos Estados Unidos na América do Sul.Mas o deputado uruguaio Daniel Peña, opositor do governo e quem integrou uma delegação de parlamentares em Mendoza, criticou a entrada da Venezuela no Mercosul.
"A Venezuela entra no bloco pela janela. Agora se entende porque suspenderam o Paraguai. É uma bagunça e com legalidade duvidosa", disse Peña a repórteres.Antes de anunciar a adesão venezuelana, os presidentes do Mercosul fizeram uma análise jurídica da situação, acompanhados de autoridades de organismos especializados.
O bloco também concordou que convocará uma reunião com autoridades chinesas para "explorar conjuntamente mecanismos e ações para aumentar e facilitar o intercâmbio comercial".
A decisão acontece depois que o primeiro-ministro da segunda economia mundial, Wen Jiabao, disse que desejava avançar no acordo de livre comércio com o bloco.
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