O papa Francisco abriu, neste domingo, o Sínodo dos Bispos sobre a família, com uma missa solene na Basílica de São Pedro. Em sua homilia, o pontífice falou de forma enfática a respeito da complementariedade entre homem e mulher e disse que a missão da Igreja é defender a indissolubilidade do casamento, mas sem fechar os olhos a situações dramáticas que afligem famílias em todo o mundo.
A liturgia da missa tinha, na primeira leitura, o relato da criação de Adão e Eva, enquanto o evangelho trazia um episódio em que os fariseus questionavam Jesus sobre a licitude do divórcio, recebendo como resposta a famosa frase “o que Deus uniu, o homem não separe”. Esses foram os dois textos que nortearam a reflexão do papa Francisco, que ainda citou seus antecessores Bento XVI e João Paulo II.
“O sonho de Deus para a sua dileta criatura”, afirmou o papa, comentando a leitura do livro do Gênesis, é “vê-la realizada na união de amor entre homem e mulher; feliz no caminho comum, fecunda na doação recíproca”. Essa determinação, segundo Francisco, é retomada por Jesus no episódio lido na missa de abertura do Sínodo. Jesus “responde [aos fariseus] de maneira franca e inesperada: leva tudo de volta à origem, à origem da criação, para nos ensinar que Deus abençoa o amor humano, é Ele que une os corações de um homem e de uma mulher que se amam e liga-os na unidade e na indissolubilidade”, introduzindo o segundo tema fundamental de sua homilia, acrescentando que “o objetivo da vida conjugal não é apenas viver juntos para sempre, mas amar-se para sempre”.
Francisco elogiou a “loucura da gratuidade dum amor conjugal único e usque ad mortem” (até a morte) e disse que, “para Deus, o matrimônio não é utopia da adolescência, mas um sonho sem o qual a sua criatura estará condenada à solidão”. O homem moderno, apesar de ridicularizar este sonho, continua ansiando pelo amor autêntico, fiel e perpétuo, continuou o papa.
Na sequência, Francisco afirmou que a missão da Igreja, mesmo contra uma cultura hedonista e individualista, é “defender o amor fiel e encorajar as inúmeras famílias que vivem o seu matrimônio como um espaço onde se manifesta o amor divino; para defender a sacralidade da vida, de toda a vida; para defender a unidade e a indissolubilidade do vínculo conjugal como sinal da graça de Deus e da capacidade que o homem tem de amar seriamente”. A verdade, disse o papa, retomando um tema caro a João Paulo II e a Bento XVI, “não se altera segundo as modas passageiras ou as opiniões dominantes” – um dos temas importantes do Sínodo é o acesso aos sacramentos, especialmente a comunhão, por parte de católicos que se divorciaram e entraram em uma nova união civil, embora seu casamento religioso ainda seja considerado válido. O tema divide até mesmo cardeais: enquanto alguns defendem o acesso à comunhão nesses casos, outros alegam que fazê-lo significaria um endosso da Igreja à situação desses católicos, relativizando a doutrina sobre a indissolubilidade do casamento.
A defesa firme dos princípios católicos, no entanto, não pode levar a uma atitude de indiferença para com as pessoas que vivem dramas familiares. “Penso nos idosos abandonados até pelos seus entes queridos e pelos próprios filhos; nos viúvos e nas viúvas; em tantos homens e mulheres, deixados pela sua esposa e pelo seu marido; em muitas pessoas que se sentem realmente sozinhas, não compreendidas nem escutadas; nos migrantes e prófugos que escapam de guerras e perseguições; e em tantos jovens vítimas da cultura do consumismo, do ‘usa e joga fora’ e da cultura do descarte”, disse o papa, afirmando que a Igreja precisa saber acolher e cuidar dessas pessoas como um “hospital de campanha”, retomando uma expressão que ficou famosa na primeira longa entrevista concedida por Francisco, ainda em 2013. Francisco citou João Paulo II, para quem “o erro e o mal devem sempre ser condenados e combatidos; mas o homem que cai ou que erra deve ser compreendido e amado. (...) Devemos amar o nosso tempo e ajudar o homem do nosso tempo”.
Agora, os bispos, consultores e convidados começarão uma série de debates que devem levar quase todo o mês de outubro. Além da situação dos divorciados em novas uniões civis, outro tema que deve chamar a atenção é o dos homossexuais – no sábado, o Vaticano anunciou a demissão do padre polonês Krzystof Charamsa após ele ter dado uma entrevista a um jornal italiano admitindo que tem um relacionamento homossexual e criticando diversos pontos da moral sexual católica. Charamsa trabalhava na Congregação para a Doutrina da Fé (o órgão encarregado de zelar pela ortodoxia doutrinal da Igreja) e era professor em universidades pontifícias. No entanto, embora esses dois temas monopolizem a atenção da imprensa, estão longe de ser os únicos assuntos do Sínodo; o Instrumentum Laboris, texto que vai nortear os debates, trata de vários outros assuntos e situações. O Sínodo será encerrado em 25 de outubro.
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