O papa Bento XVI deve levar em consideração as objeções ao processo de beatificação de Pio XII, que, segundo representantes e estudiosos da comunidade judaica, teria sido omisso diante do Holocausto, quando o regime nazista de Adolf Hitler eliminou milhões de judeus na Europa.

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Em nota divulgada nesta quarta-feira (23), o porta-voz do Vaticano, padre Federico Lombardi, afirmou que, pelo fato de o papa ter assinado um decreto em que reconhece as "virtudes heroicas" de Pio XII, não se pretende limitar a discussão sobre as opções concretas que ele assumiu durante a Segunda Guerra Mundial.

"Continuam abertas no futuro a investigação e a avaliação dos historiadores em seu campo específico", diz a nota, após observar que a avaliação da Congregação para a Causa dos Santos, na qual Bento XVI se baseou para reconhecer as "virtudes heroicas", refere-se essencialmente ao testemunho de vida cristã que deu essa pessoa (Pio XII) em sua relação com Deus". Não se trata de avaliação de valor histórico de todas as decisões práticas do candidato a santo.

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O cardeal-arcebispo de São Paulo, d. Odilo Scherer, argumentou nessa mesma linha, ao comentar, em entrevista hoje, a polêmica sobre a figura de Pio XII. "As questões postas pela comunidade judaica foram consideradas e, se a Santa Sé reconheceu as virtudes heroicas, é porque está embasada em documentos", disse o cardeal. "Pio XII foi um grande papa, que conduziu a Igreja numa situação caótica, durante e logo após a guerra", acrescentou.

As críticas e objeções dos judeus à causa de beatificação, que levaria posteriormente à canonização, ameaçam interromper o processo de Pio XII no Vaticano. Isso ocorreu no caso do padre francês Leon Dehon, fundador da Congregação dos Sacerdotes do Sagrado Coração de Jesus, quando se descobriu que os promotores da causa de beatificação haviam ocultado escritos antissemitas de sua autoria. Marcada para 24 de abril de 2005, a cerimônia de beatificação foi adiada por causa da morte de João Paulo II e depois cancelada por Bento XVI.

O porta-voz do Vaticano esclareceu que, embora os decretos sobre as virtudes heroicas dos papas João Paulo II e Pio XII tenham sido promulgados no mesmo dia, essa coincidência não significa que as duas causas estejam acopladas a partir de agora, já que são totalmente independentes e cada uma poderá seguir o seu caminho.

"A recente assinatura do decreto (pelo papa) não pode ser interpretada como ato hostil contra o povo judeu e deseja-se que não seja considerada um obstáculo no diálogo entre o judaísmo e a Igreja Católica." O Vaticano espera, segundo a nota, que "a próxima visita do papa à Sinagoga de Roma seja uma oportunidade para reafirmar e consolidar com grande cordialidade esses vínculos de amizade e estima".

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