O mandato de Lugo à frente da administração do Paraguai terá algumas semelhanças com o governo Lula, segundo Alfredo Boccia, colunista do jornal paraguaio Última Hora. A campanha do esquerdista foi marcada por discursos libertários de soberania nacional e teve forte apoio popular. "Essa mudança de governo no Paraguai criou uma imensa expectativa popular que pode vir a ser um problema mais tarde", avalia Boccia. O motivo disso é que, como Lula em seu primeiro mandato, o início da gestão Lugo deve ser marcada por menos obras e mais conversas, ambientação e fixação dos dois pés para permitir a governabilidade.
No período de transição, Lugo arrebanhou parcerias tanto de esquerda quanto de direita, como o ex- senador Carlos Mateo Balmelli, do Partido Liberal, agremiação de centro-direita que compõe a base do novo governo. Balmelli será o diretor da parte paraguaia de Itaipu. O novo chanceler, por outro lado, foi indicado pela ala esquerdista da coalizão. Alejandro Hamed Franco, ex-embaixador do Paraguai no Líbano, será o ministro das Relações Exteriores. Os dois devem ser os principais personagens da renegociação do preço da energia de Itaipu, maior promessa de campanha de Lugo.
Além disso, já em abril fontes do Palácio do Planalto informaram que o vice-presidente eleito Federico Franco conversou por telefone com Lula, pedindo conselhos ao petista. Na interpretação dessas fontes, a atitude de Franco seria um indicativo de que, apesar das dificuldades políticas depois de 61 anos de domínio do Partido Colorado, Lugo não pretende fazer um governo de confronto nem de medidas radicais.
"O presidente Lugo vai se preocupar antes de mais nada em ficar de pé, e esperar passar a primeira crise de governo", diz Boccia. "E talvez isso não seja tão difícil, especialmente nos primeiros meses, enquanto o Partido Colorado ainda está em estado de nocaute e passando por uma série de conflitos internos", completa.
Os principais adversários nessa etapa de governo serão os empreiteiros, agroexportadores e servidores públicos, cuja maioria absoluta apóia o partido Colorado. Mesmo assim, a avaliação de Boccia é que o ambiente está favorável para uma mudança gradativa, uma vez que Lugo apesar do populismo carrega internamente uma política extremamente conservadora.