A cobertura que a imprensa dos Estados Unidos dá à campanha presidencial do democrata Barack Obama parece o sonho de qualquer candidato à Casa Branca. Os jornais dedicam páginas e páginas às atividades do senador por Illinois, seus discursos são transmitidos ao vivo pela CNN e seu rosto estampa a maioria das capas de revistas. Mas, ao contrário do que se poderia imaginar, a superexposição de Obama pode acabar por prejudicá-lo nas eleições de novembro, afirmam analistas.

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"A maioria das matérias publicadas sobre Obama é surpreendentemente positiva", disse ao Estado, por telefone, o cientista político Christopher C. Hull, da Universidade Georgetown, em Washington. "Os americanos não são burros e percebem que a cobertura da mídia é parcial", diz.

Após a celebrada viagem de Obama à Europa em julho, o candidato republicano, John McCain, chegou a lançar um comercial de campanha na internet para acusar os jornalistas de serem "apaixonados" por Obama. No vídeo, o repórter da NBC Lee Cowan confessa que a energia do democrata é tão contagiante que "é difícil manter-se objetivo". Quadros do programa humorístico Saturday Night Live também ironizaram o tratamento dado ao democrata. "Se você ler, assistir ou escutar a imprensa descrever a campanha de 2008, parece ser a competição mais parcial desde que Ronald Reagan derrotou Walter Mondale, em 1984", afirmou o colunista político Dick Morris. "McCain sempre aparece no limiar da senilidade e apático, enquanto Obama é retratado como herói."

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O público, porém, começou a dar sinais de que está cansado da dominação de Obama nos meios de comunicação. Uma pesquisa do Instituto Pew publicada no dia 6 apontou que 48% dos americanos acreditam receber informações "em exagero" sobre Obama. A revista Time, por exemplo, só neste ano já dedicou sete capas de suas edições para o candidato democrata. De acordo com o instituto, de 16% a 22% dos eleitores afirmam que, por causa da superexposição, têm uma imagem menos favorável do senador democrata.

"Tanta atenção dada a Obama pode prejudicá-lo ao longo da campanha presidencial", afirmou Hull. Uma outra pesquisa divulgada no mês passado pelo Instituto Rasmussen mostrou que 49% dos eleitores americanos acreditam que os repórteres tentarão ajudar os democratas a ganhar a eleição.

Já Peter Levine, diretor do Center for Information & Research on Civic Learning & Engagement, centro de estudos da Universidade Tufts, em Massachusetts, acredita que as pesquisas dificilmente mudarão o voto dos eleitores. "A cobertura da eleição parece cobertura esportiva", afirmou Levine. "As reportagens falam mais de como os candidatos estão se saindo na campanha do que sobre suas reais propostas."