Durante uma hora e meia de debate na noite de quarta-feira (4), o presidente Barack Obama falou por quatro minutos a mais do que seu adversário republicano, Mitt Romney. Mas, ao final, a noite foi definida por aquilo que Obama não disse - e isso foi bom para Romney.
Num debate que misturou temas banais de campanha e tediosos detalhes administrativos, deixaram de vir à tona os assuntos que a campanha de Obama há meses enfatiza para derrubar os índices de aprovação de Romney.
O presidente não mencionou, por exemplo, o trabalho de Romney na empresa de investimentos Bain Capital, sempre acusada pelos democratas de ter "matado" milhares de empregos nos EUA, ao transferir postos de trabalho para o exterior.
Obama também evitou repreender o rival por sua relutância em liberar mais do que dois anos de declarações de imposto de renda. Os democratas questionam se Romney - dono de uma fortuna estimada em até US$ 250 milhões - estaria escondendo algo, e também o criticam por manter milhões de dólares em contas no exterior.
Mas a omissão mais notável de Obama foi não ter pronunciado a cifra que domina a campanha nas últimas duas semanas: "47%".
Esse seria o percentual do eleitorado cativo de Obama, formado, segundo Romney, por pessoas que não pagam impostos federais e que dependem de ajudas governamentais. A declaração aparece em um vídeo gravado secretamente durante um evento de arrecadação em maio, e divulgado no mês passado.
Muitos eleitores dizem que passaram a ver Romney de forma mais negativa depois da divulgação do vídeo, e quase 60% dos entrevistados numa pesquisa Reuters/Ipsos acham que o candidato foi injusto em sua declaração.
Por isso, havia ampla expectativa de que Obama citaria o vídeo durante o debate de Denver, concebido para ser visto por 60 milhões de pessoas no país.
O moderador Jim Lehrer pareceu praticamente induzi-lo a isso durante um dos segmentos finais do debate. "O senhor acredita que há uma diferença fundamental entre vocês dois a respeito de como veem a missão do governo federal?", perguntou Lehrer.
"O governo federal tem a capacidade de ajudar a abrir oportunidades e criar escadas de oportunidade, e criar marcos nos quais o povo norte-americano possa ter sucesso", respondeu Obama.
Assessores defenderam a atuação do democrata. "O presidente não estava olhando para uma lista de ataques. Ele estava tentando explicar seus planos", disse Jen Psaki, porta-voz da campanha.
Partidários de Romney disseram que Obama pode estar adotando uma nova tática. "Pode ser que o pessoal do Obama não sinta mais que (os ataques) sejam um bom veículo para eles", disse Kevin Madden, assessor do candidato republicano.
Além de evitar ataques, Obama chegou, nos seus comentários finais, a admitir insuficiências no seu próprio desempenho do cargo. "Sabe, há quatro anos, eu disse que não sou um homem perfeito, e que não seria um presidente perfeito", disse ele. "E essa é provavelmente uma promessa que o (ex-)governador Romney acha que eu mantive."