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Pela segunda vez em menos de um mês, a França parou em meio ao caos no transporte público. No primeiro dia da greve dos trabalhadores ferroviários, metroviários e rodoviários contra a reforma dos regimes especiais de aposentadoria, enormes engarrafamentos se arrastavam por centenas de quilômetros nas principais vias de acesso das grandes cidades do país. A paralisação, que inclui ainda os funcionários das estatais de gás e eletricidade, que também são atingidos pelas mudanças previdenciárias propostas pelo presidente Nicolas Sarkozy, não tem prazo para acabar.

Trens regionais circulavam em ritmo de conta-gotas na manhã desta quarta-feira, linhas suburbanas foram canceladas e apenas 12% dos TGVs, os trens de grande velocidade, estavam circulando. Em Paris, só 20% dos trens do metrô e 15% dos ônibus funcionavam normalmente, mas o Eurostar - que liga a França à Grã-Bretanha - não foi afetado pela paralisação.

Para fugir das retenções - que chegavam a 360 quilômetros na capital - muitos optaram por meios de transporte alternativos. Os franceses pegaram caronas em motos ou foram de bicicleta ou a pé para o trabalho. Quem escolheu usar o carro enfrentou congestionamentos 100 quilômetros maiores que o habitual. Muitos já comparam esta à grande greve de 1995, que deixou a França sem transportes por várias semanas, pelo mesmo motivo: a reforma previdenciária.

A greve da companhia estatal francesa de energia (EDF), por sua vez, reduziu em 12% a capacidade de geração das usinas nucleares e fechou o acesso do gás e dos navios ao terminal de Fos-sur-Mer, segundo o sindicato do setor.

Sarkozy defende a extinção do chamado "regime especial" que permite que algumas categorias do funcionalismo público se aposentem após 37,5 anos de contribuições, em vez dos 40 anos dos demais trabalhadores franceses. Segundo o presidente francês, o privilégio, instituído após a Segunda Guerra Mundial para beneficiar trabalhadores em funções especialmente árduas, custa US$ 7,3 bilhões por ano ao país.

Segundo duas pesquisas divulgadas nesta quarta-feira, Sarkozy tem amplo apoio popular para a reforma que alteraria os benefícios de 500 mil funcionários públicos. Enquete da revista L'Express mostrou que 58% dos entrevistados acham que o governo não deveria recuar. Outra pesquisa, que saiu no direitista Le Figaro, indicou que 84% apóiam o presidente nesse tema.

- Tenho enfermeiras, acompanhantes e outros trabalhadores que fazem um trabalho duríssimo e não têm pensões especiais - disse Gerard Alaux, dono de uma casa de repouso, que teve de caminhar seis quilômetros para chegar ao seu estabelecimento devido à greve no metrô. - Hoje em dia, não podemos evitar uma reforma previdenciária - afirmou.

Apesar da paralisação na companhia ferroviária ter começado no final da tarde de terça-feira, esta manhã continuavam as reuniões do ministro do Trabalho, Xaiver Bertrand, com os sindicatos, depois que o mais importante deles, a CGT, ter dado sinais de flexibilidade e vontade de terminar com o protesto.

Protestos

Paralelamente às paralisações dos serviços de transporte e energia, Sarkozy enfrenta protestos também na esfera acadêmica. Estudantes universitários também entraram em greve para protestar contra outra reforma, a que prevê a autonomia financeira e administrativa das faculdades. O movimento vem ganhando força nos últimos dias. Cerca de 20 universidades, de um total de 85, estão parcialmente ou totalmente paralisadas. A nova lei prevê, por exemplo, que as faculdades possam realizar parcerias com empresas, o que os estudantes consideram uma "privatização" do ensino superior.

Os universitários vão participar das passeatas dos ferroviários e funcionários dos setores de energia previstas em todo país. Na terça, estudantes tentaram bloquear trilhos nas estações de trens, mas foram impedidos pela polícia.

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