Partidários do presidente deposto Manuel Zelaya argumentaram que a investida do governo de facto contra a imprensa de oposição poderia prejudicar as conversas pelo fim da crise política no país. O dirigente do grupo Resistência Nacional, Rafael Alegría, criticou um decreto permitindo que as autoridades "revoguem e cancelem" licenças de rádio e televisão de emissoras consideradas uma ameaça à "segurança nacional" e acusadas de disseminar "o ódio".
Zelaya foi deposto em um golpe militar em 28 de junho. No mês passado, o governo de facto liderado por Roberto Micheletti já fechou a Rádio Globo e o Canal 36, vistos como próximos de Zelaya, e restringiu a liberdade de assembleia e movimento. O novo decreto dá base legal para medidas similares no futuro, segundo analistas. "O novo decreto é simplesmente destinado a nos silenciar de uma vez por todas", afirmou o diretor do Canal 36, Esdras López. Segundo ele, Micheletti quer manter o canal de televisão para seu uso próprio.
Os dois lados da crise política negociam desde a semana passada. Os partidários de Zelaya, porém, advertem que a volta do líder é condição essencial para a normalidade. Micheletti, porém, rejeita o retorno do líder deposto. As negociações em andamento incluem a nomeação de um gabinete conjunto. O líder sindicalista Juan Barahona, um dos três negociadores de Zelaya, disse no sábado que o gabinete, se formado, terá membros dos dois lados.
Na quinta-feira, uma delegação diplomática da Organização dos Estados Americanos (OEA) deixou Honduras sem resolver o impasse político, mas destacando que ajudou a começar um diálogo entre os dois lados em conflito. O governo de facto afirma que Zelaya descumpriu a Constituição ao tentar reformar a Carta ao convocar um referendo, o que teria justificado sua deposição. A nova administração, porém, não obteve reconhecimento internacional e é pressionada a permitir a volta de Zelaya, para que sejam reconhecidas as eleições marcadas para 29 de novembro.
As conversas entre os dois lados devem recomeçar amanhã. "Na terça-feira (amanhã), nós iremos tratar do ponto central (volta de Zelaya) em detalhes. Se em 15 de outubro não tivermos um acordo, as conversas terão fracassado", advertiu o negociador Barahona.