Grupos de oposição relataram pelo menos 70 mortes nas últimas 24 horas, a maior parte em Damasco, palco de renovados conflitos entre insurgentes e forças leais ao ditador Bashar Assad. Alguns ativistas, no entanto, apontam cifras ainda maiores - na casa dos cem mortos - após o recrudescimento das operações na capital e nas vizinhanças.
Moradores disseram que não há trégua nos combates na capital, que entraram no seu quinto dia. É a primeira vez em 16 meses de rebelião na Síria que a violência chega com tanta força a Damasco, e vídeos vindos da cidade mostram nuvens de fumaça erguendo-se no horizonte.
O atentado de quarta, em que morreram três autoridades de primeiro escalão ligadas à segurança e defesa do regime, foi considerado por especialistas um "golpe fatal", mas não "mortal" para Assad, cujo paradeiro é desconhecido.
Uma autoridade confirmou à agência Efe que o ditador ainda se encontrava em Damasco e desempenhava normalmente suas funções.Mas fontes oposicionistas e um diplomata ocidental disseram que o combalido líder está agora na cidade litorânea de Latakia.
O palácio de Latakia, que já foi usado no passado por Assad para realizar reuniões oficiais, está localizado em montanhas perto da cidade, onde fica o principal porto da Síria.
O ataque de quarta-feira provocou uma intensificação das operações em Damasco, com uso de artilharia pesada e helicópteros, conforme relatos de testemunhas e grupos de oposição.Das 70 mortes relatadas hoje, pelo menos 30 teriam ocorrido em Damasco e vizinhanças.
A artilharia do regime bombardeou vários bairros da capital, onde o exército enfrenta os grupos rebeldes, classificados como "terroristas" pelas autoridades.Em declarações dadas por telefone, o ativista Abu Quais al Shami, vizinho de um dos bairros mais castigados -Al Tadamun- afirmou que o distrito está cercado por tropas leais ao ditador, que usam helicópteros para atacar os focos de insurgência.
Moradores dos bairros de Midan e Kafr Souseh relataram explosões constantes e disparos intensos, enquanto helicópteros militares rondavam as áreas.
"O bombardeio não parou a noite toda. Disparos podiam ser ouvidos na cidade toda. Foi alto. Havia também sons de combates. Não há muita gente se aventurando a sair. Não consigo nem encontrar um táxi, então estou esperando alguém nos apanhar", disse um morador de Damasco por telefone.
"Todo mundo no bairro está se armando. Alguns com metralhadoras, alguns com pistolas. Alguns até mesmo só com facas. E quem não tem nada tenta ficar acordado e ficar alerta o máximo que conseguir", disse outro morador, também por telefone, da região de Midan.
Quarta-feira
Os grupos opositores revelaram nesta quinta que mais de 100 pessoas morreram devido à repressão governamental durante o dia de ontem.
Segundo o Observatório, houve 160 civis mortos, enquanto os Comitês assinalaram que foram 188 e a Comissão afirmou que o número alcançou 251.
Enquanto isso, continuam os combates entre os rebeldes e o Exército dentro da capital e em sua periferia, assegura a oposição, o que não é reconhecido pelo regime, que diz perseguir supostos grupos terroristas armados.
No atentado de quarta, pela primeira vez desde o início das revoltas populares há mais de 12 meses autoridades do primeiro escalão foram atingidas pelos insurgentes, num conflito em que mais de 15 mil pessoas (segundo estimativas da oposição ao regime) já morreram, entre civis e militares.
Resolução
Mais cedo, a votação do Conselho de Segurança da ONU da resolução sobre a Síria foi adiada para quinta, a pedido de Annan. Na terça, o mediador e o secretário-geral Ban Ki-moon conversaram com autoridades russas e chinesas para pedir consenso entre os países com poder de veto sobre a resolução.Proposta por Reino Unido, EUA, França e Alemanha, a resolução estenderia a atual missão de observadores não armados da ONU por 45 dias (ela expira no próximo dia 20).
Coloca ainda o atual plano de paz de Annan, enviado especial da ONU para a Síria, sob o capítulo 2 da Carta da ONU, que permite ao Conselho de Segurança autorizar ações que vão de sanções econômicas e diplomáticas à intervenção militar no país.
A resolução também estabelece que a Síria vai ser submetida a sanções se não retirar suas tropas e armas pesadas das principais cidades em até dez dias a partir da adoção do texto.
O chanceler russo, Sergei Lavrov, disse na segunda-feira que a Rússia vai bloquear a resolução, justamente pela ameaça de sanções. O país quer que a missão de observadores da ONU seja estendida e tenha suas competências ampliadas, mas se opõe a qualquer sanção ao regime, assim como a China.
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