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Preocupação

Pequenas empresas argentinas suspendem pedidos e cortam gastos

Fornecedores de pequenas e médias empresas argentinas já sofrem com a suspensão de pedidos e cortes de provisões a curto prazo. As "pymes", como são denominadas as pequenas e médias empresas na Argentina, já vinham arrastando, desde o início do ano, certa deterioração de suas atividades por causa da inflação e da desconfiança no governo provocada pela crise com o setor agropecuário, detonada em março último. Com a crise mundial e a desvalorização do real brasileiro, os especialistas consideram que a atividade econômica vai encolher. "Dois dos meus melhores clientes me avisaram que os projetos de ampliação de suas redes e sistemas de software estão suspensos até segunda ordem", disse à Agência Estado o técnico de tecnologia da informação Pablo Lopéz, fornecedor de aproximadamente 15 "pymes" argentinas de serviços, escritório de advocacia, importadoras, têxteis e outras.

Lopéz relatou que há quase dois meses um cliente médio do setor de materiais e ferramentas de construção encomendou todos os equipamentos necessários para a implantação de um novo sistema informático na empresa, o qual havia sido projetado no início deste ano. No entanto, no dia da entrega do equipamento, o empresário suspendeu a compra e o projeto. "O problema é a desconfiança e a dúvida que são geradas neste momento de incertezas sobre o que vai ocorrer com a economia. Então, as pessoas preferem engavetar os projetos e não investir em nada", queixou-se.

Para o diretor da fundação Observatório Pyme, Vicente Donato, a Argentina precisa desvalorizar sua moeda urgentemente para acompanhar o real. "Quando se está perdendo, a solução é desvalorizar. É o reconhecimento de que fracassou a mudança na estrutura econômica", afirmou. A fundação é patrocinada pela União Industrial Argentina (UIA) e pela siderúrgica Techint. Ele diz que o país não adotou medidas para se preservar da crise e as reservas estão sendo liquidadas para sustentar o peso em um contexto de desvalorização dos países vizinhos. Na UIA, a opinião generalizada é de que antes de explodir a crise global, havia margem para adotar outras políticas para minimizar a perda da competitividade provocada pela inflação, mas o problema agora é que o Brasil e o Chile desvalorizam suas moedas, enquanto a Argentina perde reservas para manter o peso. Todos estão seguros de que o mercado argentino sofrerá uma avalanche de produtos brasileiros porque o peso não acompanha o real.

As empresas de têxteis, calçados, couros e artigos eletrônicos e de eletrodomésticos são as mais afetadas pela perda da competitividade, segundo um relatório da fundação Observatório de Pymes. "A crise financeira constitui uma importante fonte de incerteza, que se soma à crise de confiança do empresariado de pequenas e médias empresas industriais que se instalou no início de 2008", afirma o relatório. As vendas das pequenas empresas caíram no segundo trimestre 9,7% em relação a igual período de 2007, enquanto as das médias caíram 4,1%. No segundo trimestre, 78,5% dos empresários "pymes" avaliavam que era um mau momento para investir em bens duráveis. "Agora, essa tendência se aprofunda com o passar dos dias da atual crise", afirma o relatório.

Para os analistas, o dever de casa pendente da Argentina vai pressionar o país ainda mais em um cenário de recessão. "Inflação reprimida, o excesso de gasto, a ausência de um fundo anticíclico e a dependência do preço das commodities condicionam as decisões de política econômica que possam ser tomadas para minimizar o impacto da crise", opina o economista José Luis Espert, da consultoria Espert & Associados.

Os analistas econômicos observam ainda que o fato da Argentina ter estado fora dos mercados financeiros não é um sinal de solidez, como costuma dizer a presidente Cristina Kirchner, mas exatamente o contrário. São mais fortes os sinais de que o país não tem capacidade de pagar seus compromissos financeiros do próximo ano, estimados em US$ 24 bilhões.

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