O presidente do Peru, Alan García, disse nesta quarta-feira que o seu país poderá reconhecer os resultados das eleições presidenciais de 29 de novembro em Honduras. García disse que irá aguardar para ver se as eleições serão limpas ou marcadas por fraudes. "Houve golpe de Estado e a única maneira de sair disso é com eleições", disse o presidente peruano, dizendo que seu país adotou uma abordagem "pragmática". O México se absteve de comentar a situação em Honduras, enquanto os Estados unidos, nesta quarta-feira, reforçaram o apoio às eleições.

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"A posição dos EUA não mudou. Estamos ajudando os hondurenhos para assegurar que as eleições sejam livres, justas e transparentes", disse o porta-voz do departamento de Estado, Ian Kelly. Ele não disse se os EUA apoiarão o resultado do sufrágio.

A posição dos EUA recebeu nesta quarta-feira mais críticas. "No final, o golpe venceu", disse Heather Beckman, analista de assuntos latino-americanos no think tank Eurásia Group, em Nova York (EUA). "Foi algo ruim e não deveria ter acontecido, mas no final não existia mesmo mais nada que alguém pudesse fazer".

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Embora grande parte dos hondurenhos diga que irá votar para acabar com o impasse político, uma parte da população diz que votar seria legitimar o golpe. "Eu não tenho a intenção de votar", disse o lojista Germán Lagos, de 36 anos. "As eleições vão servir só para legitimar esse golpe". O presidente José Manuel Zelaya foi derrubado num golpe de Estado em 28 de junho. Zelaya está abrigado desde setembro na Embaixada do Brasil.

Os dois principais candidatos - Porfírio Lobo, do Partido Nacional, e Elvin Santos, do Partido Liberal - lutaram contra a campanha de Zelaya para mudar a Constituição. Lobo, que perdeu as eleições de 2005 para Zelaya, se beneficia das divisões entre os liberais após a queda de Zelaya. Empresário rico, Lobo fez uma campanha de conservador linha-dura em 2005, quando defendeu a pena de morte em Honduras como maneira de combater as gangues. Desta vez, ele suavizou o tom, dizendo num discurso recente: "Nós queremos investimentos estrangeiros e turistas, vamos caminhar em paz".

Os EUA reforçaram que enviarão observadores para acompanhar as eleições e garantir que o processo seja "livre e justo", disse o secretário assistente de Estado para o Hemisfério Ocidental, Arturo Valenzuela.

"Esse é um processo eleitoral que está no calendário eleitoral normal, sob a Constituição de Honduras, e já estava em curso durante meses antes do golpe", disse Valenzuela.

Denúncia de Micheletti

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O presidente de facto de Honduras, Roberto Micheletti, denunciou na madrugada desta quarta-feira que armas encontradas na terça-feira pela polícia seriam usadas para um atentado contra ele durante as eleições deste domingo. "Hoje a polícia me informou que ia haver um atentado contra mim na cidade de Progreso, quando eu fosse votar", afirmou ele em entrevista coletiva.

Micheletti deixará temporariamente o cargo entre 25 de novembro e 2 de dezembro. Neste dia, o Congresso se reunirá para decidir sobre a volta ou não do presidente deposto, Manuel Zelaya. O presidente de facto disse que vai deixar o poder para que os hondurenhos "enfoquem as eleições". Ele pretende viajar para votar em sua cidade natal de Progreso, 200 quilômetros ao norte da capital Tegucigalpa.

A polícia prendeu dois nicaraguenses e dois hondurenhos por esconderem armas em uma casa na costa atlântica de Honduras. Um porta-voz policial, porém, não quis confirmar se havia um plano para matar Micheletti.

"Suspeitamos que essa gente participou em recentes atentados com explosivos no país", disse o porta-voz policial Orlin Cerrato. "Não há dúvida de que as intenções dessas pessoas era gerar o caos e o temor entre os hondurenhos, para prejudicar o processo eleitoral."

O arsenal foi encontrado em uma moradia no populoso bairro La Sirena, em Progreso. Havia fuzis com mira telescópica, balas de fuzis automáticos AK-47 e aparelhos para comunicação. Na manhã de terça-feira, o Tribunal Supremo Eleitoral apresentou um sistema de câmeras com as quais serão transmitidas imagens dos centros de votação pela internet. "No mundo inteiro poderão ver. .se não querem ou não podem vir observar o processo, pomos à disposição (as imagens) para que não haja nenhuma dúvida", afirmou o magistrado Enrique Ortez.

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Após o golpe de Estado que derrubou Zelaya em 28 de junho, a Organização dos Estados Americanos (OEA) suspendeu Honduras. A OEA, junto com a União Europeia e entidades como o Centro Carter, tradicionalmente enviam missões de observação eleitoral para a região. Por causa do golpe, vários países, entre eles o Brasil, prometem não reconhecer os resultados da eleição nem enviarão missões de observação.

O vice-presidente e ministro das Relações Exteriores do Panamá, Juan Carlos Varela, disse na terça-feira em Tegucigalpa que seu país reconhecerá os resultados, e que as eleições serão uma forma de Honduras sair da crise e voltar à "ordem democrática".

Já os simpatizantes de Zelaya denunciaram que a repressão e a vigilância aumentaram no país. Segundo estes, não é possível haver um processo eleitoral justo nessas condições. Zelaya também afirma que as eleições não podem ser reconhecidas, pois são organizadas por um governo golpista.

Houve pelo menos 20 atentados contra centros comerciais, escritórios públicos e sedes de partidos políticos nos últimos dois meses em Honduras. Até agora, fora presos seis suspeitos por esses ataques.

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