Na eleição presidencial mais disputada da história moderna do Peru, neste domingo (5), os votos dos imigrantes poderão ter importância significativa. "A comunidade de imigrantes peruanos sabe que seu voto poderá decidir a eleição, e isso é uma grande responsabilidade", disse Carlos Gallardo Guarniz, um peruano residente na Argentina e que dirige a revista El Sol del Peru.
Com as pesquisas de intenção de voto indicando empate técnico entre a deputada de direita Keiko Fujimori e o ex-coronel de centro-esquerda Ollanta Humala, os cerca de 750 mil peruanos credenciados a votar, que representam 4% do eleitorado, poderão ser decisivos.
A última pesquisa divulgada pelo instituto Ipsos Apoyo mostra Keiko na liderança com 50,5% das intenções de voto e Humala com 49,5%; já a última pesquisa do instituto Imasen mostra Humala na dianteira, com 43,8% das intenções de voto, e Keiko com 42,5% das preferências.
Analistas dizem que a maioria dos votos de peruanos residentes em países como Argentina, Espanha e EUA deverá ir para Keiko. O apoio desses eleitores não aparece nas pesquisas de intenção de voto feitas no Peru, de modo que esse "apoio oculto" poderá representar algo entre 0,5% e 1% do número total de votos.
No primeiro turno da eleição presidencial, em abril, com cinco candidatos na disputa, Keiko obteve 21,98% dos cerca de 400 mil votos dos residentes no exterior, pouco mais do que o candidato de centro-direita Pedro Pablo Kuczynski, que teve 21,92%; Humala foi o quinto colocado entre os emigrantes, com 9,88% dos votos, e cerca de 23% dos votos provenientes de fora do Peru foram nulos ou brancos.
Segundo o cientista político Julio Carrión, da Universidade do Delaware, nos EUA, "os imigrantes peruanos tendem a ser da classe trabalhadora e têm os mesmos valores dos residentes dos bairros de Lima onde Keiko tem vantagem". Carrión, que disse apoiar Humala no segundo turno, disse que a vantagem de Keiko entre os imigrantes poderá ser pelo menos parcialmente contrabalançada pelos votos das comunidades mais isoladas nos Andes ou nas regiões central e sul do Peru, raramente consultadas nas pesquisas de intenção de voto e onde Humala teve maioria das preferências no primeiro turno.
Keiko Fujimori, que é filha do ex-presidente Alberto Fujimori, tem laços nos EUA, por ter estudado nas universidades Columbia e de Boston; seu marido é norte-americano, natural de Nova Jersey.
O peruano Norberto Curitomai, dono de uma empresa de ônibus em Nova Jersey e chefe da campanha de Keiko na região, disse que os imigrantes não confiam em Humala porque viram mais do mundo do que aqueles que ficaram no Peru. "Acho que estamos mais cientes do que está acontecendo em países como a Venezuela, o Equador e a Bolívia, que foram atingidos pelo tipo de políticas defendidas por Humala", disse Curitomai, aparentemente não informado sobre os dados da redução dos índices de pobreza nos países que citou.
Curitomai também afirmou que muitos peruanos, como ele mesmo, deixaram seu país no fim da década de 1980, durante o desastroso governo populista do presidente Alán García, que permitiu que a inflação chegasse aos 7.000% ao ano e foi marcado por intensa atividade dos guerrilheiros maoistas do Sendero Luminoso. "O pai de Keiko veio e resolveu aqueles problemas", disse Curitomai.
Alberto Fujimori foi presidente de 1990 a 2000 e se viu obrigado a fugir do Peru por causa de uma série de escândalos de corrupção e violações dos direitos humanos; em 1994, depois de se divorciar de Susana Higuchi (que o acusou de torturas e espancamentos), ele nomeou Keiko como sua "primeira dama". Afastado pelo Congresso em 2000, Alberto Fujimori deixou o Peru, viveu algum tempo no Japão (onde renegou a nacionalidade peruana e adotou a japonesa) e acabou sendo extraditado de volta ao Peru onde cumpre pena de 25 anos de prisão por corrupção e violações dos direitos humanos.
Nos últimos dias, Humala dirigiu seu discurso aos imigrantes. Ele deu entrevista à rede da CNN em espanhol na sexta-feira. Seu discurso alcançou alguns peruanos residentes no exterior, como Jorge Yeshayahu González Lara, que vive em Nova York e dirige um blog chamado La Diaspora Peruana. González Lara disse que Humala é o melhor candidato "porque formou uma coalizão para unir todos os peruanos". Ele reconhece que muitos imigrantes não concordam com sua posição. "A maioria dos jovens simpatiza com Keiko. Eles não conhecem a história e não sabem nada sobre as violações dos direitos humanos, mesmo quando mostramos as fotos das vítimas", acrescentou. As informações são da Dow Jones.
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