Atualizado em 06/11/2005 às 17h42
Os distúrbios registrados na madrugada deste domingo na França foram os mais graves dos últimos dez dias, em Paris e nos arredores da capital. O número total de veículos destruídos na França da noite de sábado até a manhã de domingo foi o maior até agora: 1.295 veículos, disse o ministro do Interior, Nicolas Sarkozy.
Para tentar conter a violência, as autoridades haviam posto em marcha um forte aparato para evitar uma noite de distúrbios generalizados, com 2.300 agentes de reforça na periferia de Paris, para onde também foram deslocados centenas de bombeiros de outros pontos da França.
As forças de segurança prenderam 193 pessoas. Um porta-voz da polícia disse que os rebeldes evitaram o confronto direto com a polícia. Ao menos 15 agentes tiveram ferimentos leves nos confrontos entre os jovens manifestantes e policiais. Seis helicópteros com equipamento de visão noturna e câmaras também foram usados e o ministro do Interior, Nicolas Sarkozy, se deslocou durante a noite até alguns dos bairros atingidos nos arredores da capital.
Em Paris, uma dezena de automóveis foi destruída, principalmente nas proximidades da Praça da República, onde foi lançado um coquetel molotov sobre carros estacionados o que desencadeou um incêndio que se propagou a um edifício próximo. No total, cerca de 3.500 carros, caminhos e ônibus arderam desde que eclodiram os distúrbios, há dez dias, após a morte de dois adolescentes, eletrocutados num transformador elétrico onde buscaram refúgio, ao julgarem que estavam sendo perseguidos pela polícia.
Os incidentes mais graves desta madrugada ocorreram em Evreux, na região da Normandia (noroeste da França), onde uma centena de carros foram incendiados. No bairro de Madeleine houve confronto com forças de ordem e sete agentes ficaram feridos. O prefeito de Evreux e presidente da Assembléia Nacioal, Jean-Louis Debré, mostrou sua indignação pela atitude dos manifestantes em sua localidade, que não apenas destruíam as coisas, mas também buscavam o "contato" com os agentes.
Também foram considerados graves os incidentes em Pau, ao sul da França, onde durante uma hora houve enfrentamentos entre policiais e grupos jovens, que resultaram em sete agentes feridos. Cerca de 20 carros foram incendiados, assim como outros equipamentos urbanos. Em Evry, na periferia sul de Paris, um incêndio criminoso numa residência de imigrantes obrigou centenas de ocupantes a desocuparem o edifício, deixando duas pessoas feridas. Sarkozy, que havia se deslocado até lá, conversou brevemente com vários detidos, em sua maioria, menores de 20 anos. Em Aubervilliers, cidade vizinha à capital, o ginásio também sofreu com a ação dos vândalos, assim como duas escolas de Grigny.
Muitas vozes da esquerda vêm pedindo a demissão do ministro do Interior, Nicolas Sarkozy, embora não haja nenhuma posição oficial do Partido Socialista. Julien Dray, um de seus dirigentes, afirmou que a eventual demissão de Sarkozy não serviria mais do que para encorajar os revoltosos, que considerariam o episódio como uma vitória.
Sarkozy, acusado de inflamar os ânimos, após referir-se aos jovens rebeldes como "escória", tem ignorado os apelos para renunciar ou se desculpar publicamente.
Após a reunião de um gabinete de crise no sábado, ele disse:
- Estamos tentando ser firmes e evitar qualquer provocação.Villepin, que, como Sarkozy, tem ambições de se tornar o candidato da direita para as eleições presidenciais em 2007, deverá publicar até o fim do mês um plano de ação que engloba 750 localidades consideradas violentas.
Uma pesquisa publicada pela publicação "Le Parisien" oferece uma imagem contraditória de Sarkozy: 57% dos entrevistados disseram estar satisfeitos com a atuação do ministro; 73% o criticaram por intervenções por demais sensacionalistas e 63% por fazer declarações chocantes.