Quem vê a transferência de DNA de uma espécie para outra criando os famigerados transgênicos como um fenômeno totalmente artificial precisa rever logo seus conceitos. Um pesquisador alemão está mostrando que, em plantas, a passagem de material genético de um indivíduo para outro e de uma espécie para outra pode acontecer de forma impressionantemente natural. O fenômeno parece estar presente em enxertos uma técnica agrícola com milhares de anos de idade e, provavelmente, no contato natural entre as raízes ou caules de vegetais.
"É claramente algo que borra a fronteira entre a engenharia genética e a natureza", afirma o responsável pela pesquisa, Ralph Bock, do Instituto Max Planck de Fisiologia Molecular Vegetal, na Alemanha. O trabalho de Bock foi apresentado durante o 54. Congresso Brasileiro de Genética, que termina nesta sexta (19) na capital baiana.
A transferência de genes de uma espécie para outra é comum entre bactérias, certamente os microrganismos mais promíscuos do planeta quando se trata de trocas de DNA. Acreditava-se que esse processo era bem mais raro entre os eucariontes, grupo dos seres vivos com organização celular complexa que inclui as plantas e os animais. No entanto, ao menos no caso dos vegetais, Bock está mostrando que as células eucarióticas também podem "vazar genes", como ele diz.
O pesquisador alemão e seus colegas desenvolveram uma série de técnicas engenhosas para rastrear a viagem de genes dentro das células, e de uma célula para outra, em plantas cultivadas em laboratório. No primeiro caso, eles comprovaram que o DNA presente nos cloroplastos, as estruturas das células vegetais responsáveis pela fotossíntese, pode "migrar" numa freqüência relativamente alta para o núcleo da célula uma transferência a cada 5 milhões de células nas quais os pesquisadores introduziram um novo gene nos cloroplastos via experimentos.
E a coisa fica ainda mais estranha. No caso de enxertos, técnica que envolve o "transplante" do caule de uma planta para o tronco da outra, por exemplo, as partes envolvidas na mistura parecem também trocar genes, a julgar por outro conjunto de experimentos conduzido por Bock. "Ainda é muito cedo para dizer se esse fenômeno teria um papel na evolução das plantas", diz o alemão.
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