Só os mais aptos sobrevivem. Ou não, pelo menos no caso dos dinossauros e seu reinado de quase 150 milhões de anos na Terra, afirma um estudo que acaba de ser publicado numa das mais respeitadas revistas especializadas do mundo, a americana "Science" . De acordo com um quarteto de pesquisadores, não há como afirmar que os dinos, em sua origem, tinham qualquer superioridade evolutiva frente a seus parentes e "adversários" diretos. Em outras palavras, sua vitória por tanto tempo teria sido questão de sorte. Uma extinção em massa teria deixado o caminho livre para eles.
"A grande questão é: será que, sem essa extinção em massa, eles teriam vencido os outros de forma competitiva e se tornado dominantes mesmo assim? Eu acho que não", declarou ao G1 por telefone Stephen L. Brusatte, primeiro autor da pesquisa.
A idéia de que a supremacia dinossauriana não teve nada a ver com competência circula há tempos entre os paleontólogos, mas o trabalho na "Science" dá à tese sua formulação mais forte até agora. A equipe coordenada por Brusatte, do Museu Americano de História Natural, e Michael Benton, da Universidade de Bristol (Reino Unido), buscou maneiras objetivas de medir a taxa de evolução morfológica (ou seja, envolvendo a forma do corpo, preservada pelos fósseis) dos dinos. Mais importante ainda, comparou matematicamente essa taxa ao fenômeno correspondente entre os crurotársios, parentes e principais "rivais" dos bichos.
Crocodilagem
"Crurotársios" é o nome abrangente aplicado a uma grande variedade de répteis, alguns extintos, outros ainda existentes. São primos mais próximos dos jacarés atuais (também incluídos no grupo) do que dos dinos, mas, em seu auge, assumiram todo tipo de forma, inclusive a de comedores de plantas - coisa que nenhum jacaré de hoje faz. O que acontece é que, durante os 28 milhões de anos finais do período Triássico (fase da história da Terra que terminou 200 milhões de anos atrás), dinossauros primitivos e crurotársios viveram lado a lado. Terminado o Triássico e iniciado o Jurássico (o mesmo do título em inglês da série "Parque dos Dinossauros"), a maior parte dos crurotársios some, enquanto os dinos florescem de forma sem precedentes.
Muita gente assumia que os dinos escaparam dessa e dominaram o mundo graças a alguma vantagem intrínseca, como suas pernas eretas (melhores para locomoção rápida) ou o suposto sangue quente, como o de mamíferos e aves. Brusatte, Benton e companhia, no entanto, resolveram medir diretamente como os dois grupos evoluíram durante o fim do Jurássico. Traçaram uma árvore genealógica de 64 gêneros diferentes de ambos os tipos de bicho, levando em conta 437 características do esqueleto, usadas para saber como e quanto a morfologia dos animais foi mudando ao longo de milhões de anos.
Surpresa
O mais surpreendente é que, embora a taxa evolutiva geral (grosso modo, a taxa com que certos gêneros davam origem a gêneros novos, mas relativamente parecidos) de ambos os grupos decaiu ao longo do Triássico, a variedade de tipos corporais - formas distintas de dino, por exemplo, como os pescoçudos quadrúpedes ou os pequenos carnívoros bípedes - aumentou. "Não temos a menor idéia de como explicar isso", diz Brusatte. "É muito esquisito. Uma coisa deveria estar ligada à outra, mas não está. Pode ser só um problema de viés na nossa amostra, mas ainda não temos certeza."
De uma coisa, no entanto, o grupo está convicto: a taxa evolutiva de dinossauros e crurotársios é essencialmente igual. E pior: os crurotársios parecem ter ocupado um "morfoespaço" maior, ou seja, teriam desenvolvido uma variedade mais ampla de formas e estilos de vida do que os dinos. Alguns até "imitavam" certos tipos de dinossauros e chegavam a ser mais numerosos que eles em vários ecossistemas. Estavam, portanto, equipadíssimos para sobreviver e prosperar - se não fosse a extinção em massa do fim do Triássico.
"O interessante é que essa extinção na barreira entre Triássico e Jurássico foi umas cinco grandes da história da Terra - tão ruim quanto a que acabou com os próprios dinossauros há 65 milhões de anos", conta Brusatte. As causas ainda são nebulosas, mas parece haver uma ligação entre a hecatombe e um aquecimento global violentíssimo. Os dinos teriam escapado por pura sorte, já que a extinção de grupos animais nesses eventos é basicamente aleatória.
Sorte, sorte, sorte
Mas não seria possível estar "preparado" biologicamente para uma extinção em massa. "Sim, mas eu ainda chamo isso de sorte", diz Brusatte. "Em condições normais, se comparássemos os dois grupos, quem teria mais chance de dominar seriam os crurotársios."
Para o paleontólogo, o mesmo vale para o fim da Era dos Dinossauros e o começo da Era dos Mamíferos. A sorte também teria interferido para que o nosso grupo de vertebrados se tornasse dominante, ao mandar um asteróide que acabou com os dinos. "As grandes reviravoltas da história da Terra parecem ser dominadas por esse tipo de fenômeno", afirma ele.
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