A descoberta de plutônio em uma instalação da usina nuclear Daiichi, em Fukushima, mostra o quão sérios são os danos a seus reatores, afirmou hoje Hidehiko Nishiyama, porta-voz da Agência de Segurança Nuclear e Industrial. A companhia operadora da usina continua trabalhando para consertar os sistemas de resfriamento, para que os reatores sejam estabilizados.
"O plutônio não será liberado a menos que o combustível atinja temperaturas muito altas", disse Nishiyama. O fato de o plutônio ter avançado sobre várias camadas de barreiras de segurança "demonstra a seriedade do acidente", disse o funcionário. O plutônio é produzido na reação nuclear do combustível urânio, mas normalmente fica contido no núcleo do reator.
Nishiyama afirmou, porém, que o plutônio tinha "pouco efeito adicional no ambiente" e que não representava um risco à saúde pública. O primeiro-ministro japonês, Naoto Kan, disse que o país está em "alerta máximo" em relação aos riscos. Segundo Kan, a situação na usina ainda era "imprevisível", mas o governo iria lidar com o problema e estava "em alerta máximo".
Há várias possíveis fontes para esse plutônio, disse o professor Tetsuo Sawada, do Instituto de Tecnologia de Tóquio, especialista em engenharia de reatores. Uma é o tanque de armazenamento de resíduos, onde as barras de combustível já utilizadas são estocadas. Quando o sistema de refrigeração falhou, essas barras se aqueceram e liberaram materiais radioativos.
Outra é o núcleo dos reatores 1, 2 ou 3, onde as barras de combustível foram parcialmente expostas pelos níveis baixos da água para o resfriamento. Quando foi liberado o vapor do reator para evitar danos maiores à estrutura, materiais radioativos das barras de combustível podem ter sido liberados na atmosfera. Para o plutônio ser liberado da barra de combustível, a temperatura precisa subir para além de 2 mil graus Celsius. O mais provável é que o plutônio tenha vazado do reator 2, segundo o professor.
Em um pequeno sinal de progresso, a agência de segurança nuclear disse que a eletricidade foi restaurada hoje na sala de controle do reator 4. Esta era a última sala de controle que ainda estava sem energia. Também foi reiniciado o trabalho nos reatores 1 e 3 para se reparar os sistemas de resfriamento, um passo importante para que as temperaturas voltem para níveis seguros.
A Tokyo Electric Power (Tepco), proprietária da usina, posicionou sacos e barreiras de concreto no entorno de uma área alagada próxima do reator 2, a fim de evitar que a água altamente radioativa siga para o Oceano Pacífico. Enquanto isso, os níveis de radioatividade em águas próximas caíram bastante.
Mais de duas semanas após a crise, iniciada no dia 11 de março pelo terremoto de magnitude 9,0 seguido de tsunami, as temperaturas permanecem altas no reator 1, indicando que o combustível nuclear nele ainda está em condição volátil. A temperatura alta nos reatores continua a transformar a água para resfriamento em vapor. O tsunami prejudicou o sistema de resfriamento da usina, impedindo o resfriamento adequado do combustível nuclear, que seguiu quente mesmo após a paralisação automática da usina.
Hoje, o ministro da Política Nacional, Koichiro Gemba, disse que a nacionalização da Tepco era "uma opção", mas negou que houvesse um plano imediato para isso. O principal porta-voz do governo, Yukio Edano, disse que no momento a administração não considerava nacionalizar a empresa.