Porto Príncipe - Policiais armados impediram que passeatas de candidatos rivais à Presidência do Haiti se encontrassem ontem em Porto Príncipe, a dois dias das eleições no país assolado pela cólera. Incidentes esporádicos, inclusive confrontos entre manifestantes e tropas de paz da ONU em Porto Príncipe e Cap-Haitien, fazem com que o cheiro de pneus queimados e de gás lacrimogêneo se some ao odor da sujeira e das doenças que tomam conta de hospitais superlotados pela cólera e dos acampamentos de sobreviventes do terremoto de janeiro.
Passeatas de dois candidatos Jude Célestin, que tem aval do presidente René Préval, e "Sweet Micky" Martelly, um músico popular lotaram as ruas da capital, mas policiais armados impediram confrontos. As autoridades decidiram manter a eleição presidencial e parlamentar de domingo apesar dos enormes problemas que o Haiti enfrenta.
Quatro dos 18 candidatos pediram o adiamento da votação, e vários deles se queixaram de que as autoridades eleitorais locais estariam sendo tendenciosas a favor do governo. Edmond Mulet, chefe da Minustah (missão da ONU no Haiti), minimizou as queixas, dizendo que as autoridades têm se mostrado "à altura da tarefa". "As eleições não serão perfeitas, não vão resolver todos os problemas, mas são um caminho necessário no processo de democratização no Haiti", disse Mulet.
Analistas dizem que não há um favorito claro na eleição presidencial, e que a disputa deve ser decidida num segundo turno, em 16 de janeiro.
Cólera
As eleições acontecem em meio ao surto de cólera que atingiu o país há algumas semanas. O número de mortos no Haiti chegou a 1.523, segundo novo balanço das autoridades. Detectada em outubro, a doença, de prevenção simples, continua se espalhando progressivamente pelo país mais pobre do Hemisfério Ocidental.
Segundo o novo balanço, 66.593 pessoas foram atendidas em centros médicos com sintomas da cólera. Destas, 27.933 foram hospitalizadas.
O Departamento de Artibonite (norte), onde o surto começou, é o local mais atingido, com 723 mortos e 14 mil hospitalizados. Outras 140 pessoas morreram e cerca de 3.000 são hospitalizadas na capital Porto Príncipe.
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