A polícia do Quirguistão invadiu uma vila de usbeques étnicos nesta segunda-feira, espancando homens e mulheres, segundo acusação de testemunhas. Os relatos apontam que ao menos duas pessoas morreram e que 20 ficaram feridas. As acusações estão entre as mais graves feitas por usbeques sobre uma suposta conspiração oficial quirguiz, que teria matado cerca de 2 mil pessoas na semana passada e forçou quase metade da população de 800 mil usbeques a deixar o Quirguistão.

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Autoridades quirguizes admitiram hoje que realizaram uma busca na vila de Nariman, onde ocorreu a violência, nas proximidades da principal cidade do sul do Quirguistão, Osh. As autoridades alegam, porém, que seguiam pistas de supostos criminosos que se refugiaram no local. Eles disseram que sete pessoas foram detidas sob suspeita de envolvimento com o assassinato do chefe local da polícia uma semana atrás, mas não comentaram as acusações usbeques de violência. Já Emil Kaptaganov, chefe do Estado-Maior, confirmou que duas pessoas ofereceram resistência e foram mortas e que 23 solicitaram assistência médica após a ação em Nariman.

Aziza Abdirasulova, do Kalym-Shaly, um respeitado grupo de direitos humanos sediado na capital quirguiz, forneceu os mesmos dados. Ela disse acreditar que a polícia, de maioria étnica quirguiz, se vingou pela morte de seu chefe. "Eles foram movidos pela vingança e agiram como animais selvagens", disse ela.

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As tensões entre os dois grupos étnicos são antigas e embora ambos sejam muçulmanos sunitas, falam línguas diferentes, de origem turca. Os usbeques, tradicionais fazendeiros e comerciantes, são mais prósperos do que os quirguizes, que têm um passado nômade. Nariman é uma vila relativamente rica, com casas térreas feitas de tijolos nas proximidades de Osh. Muitos refugiados usbeques étnicos fugiram para Nariman durante os episódios de violência e os moradores construíram três círculos de barricadas para impedir os atacantes de entrarem na vila. A operação de hoje na vila deve desencorajar os usbeques a retornarem ao Quirguistão, além de alimentar mais tensões antes de um importante referendo sobre a constituição, marcado para domingo.

Mais violência

A presidente interina do Quirguistão, Roza Otunbayeva, disse que a violência étnica teve início no dia 10 de junho e foi provocada por partidários do ex-presidente Kurmanbek Bakiyev com o objetivo de arruinar a votação da questão constitucional. A Organização das Nações Unidas (ONU), juntamente com os Estados Unidos e outros países apoiam o referendo, uma medida necessária antes das eleições parlamentares marcadas para outubro.

Na capital, Bishkek, também havia tensão nesta segunda-feira por causa dos temores de novos tumultos antes da votação de domingo. No meio da tarde, a maioria as lojas havia embalado seus produtos e coberto suas vitrines com folhas de metal. Os moradores se lembram, temerosos, de um gravação divulgada semanas atrás pelo governo na qual dois homens, identificados como o filho e o irmão de Bakiyev, discutem planos para provocar tumultos em Bishkek no dia 22 de junho. Em junho de 1990, centenas de pessoas foram mortas durante uma disputa por terras entre quirguizes e usbeques na cidade de Osh.

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