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crise na venezuela

Por dentro da trama que resultou na tentativa de matar o ditador Nicolás Maduro

Forças de segurança vistoriam prédio após explosão durante discurso do ditador venezuelano Nicolás Maduro no dia 4 | JUAN BARRETO/AFP
Forças de segurança vistoriam prédio após explosão durante discurso do ditador venezuelano Nicolás Maduro no dia 4 (Foto: JUAN BARRETO/AFP)

Em abril, vários dissidentes militares venezuelanos se refugiaram na vizinha Colômbia planejando derrubar o governo do presidente Nicolás Maduro quando foram abordados por um grupo com planos semelhantes.

O segundo grupo, formado na maioria por civis, queria assassinar Maduro e sugeriu a união de forças. Eles mostraram vídeos de drones armados, enviados de Miami e testados em uma fazenda colombiana. 

Os dissidentes militares se negaram a participar. Acharam os civis pouco profissionais e não estavam interessados em matar Maduro. O objetivo deles era capturá-lo e leva-lo a julgamento. 

Há duas semanas, quando Maduro estava discursando em um desfile militar em Caracas, drones cheios de explosivos plásticos explodiram perto dele, em uma tentativa fracassada de assassinato. Um participante da reunião de abril em Bogotá disse, em uma entrevista, que acredita que as pessoas com quem seu grupo se encontrou sejam os autores. 

Seu grupo, que incluía membros das Forças Armadas, foi posteriormente infiltrado pelos serviços de segurança venezuelanos. Várias dezenas de pessoas foram presas, rompendo a mais séria tentativa de derrubar Maduro em seus cinco anos no cargo. O plano se chamava Operação Constituição. 

Sua teoria sobre quem esteve por trás do ataque de drones é uma das várias pistas que surgem sobre os autores do ataque de 4 de agosto. 

A ação de Maduro

O governo venezuelano também diz saber algumas coisas sobre os conspiradores. Afirma que o financiador é Osman Delgado, um venezuelano que mora em Miami e está ligado a um ataque de 2017 contra uma base militar. Delgado não foi encontrado para comentar sobre o assunto. 

O governo apresentou gravações de áudio dos atacantes no dia da tentativa de assassinato. O áudio revela um grupo caótico discutindo e repreendendo um ao outro por não informar ou não falar suficientemente alto e por anunciar que a cerimônia militar, que era alvo do ataque, estava em andamento. 

Em um momento, um dos supostos conspiradores pode ser ouvido dando uma série de instruções sobre como operar o drone. Mais tarde, outro exige o status do resto do grupo depois que um dos aparelhos foi colocado no ar. "Atualizações por favor. Diga alguma coisa! Tudo está quieto!”, diz a gravação. 

O governo parece estar usando o plano para perseguir opositores políticos que podem não ter nada a ver com isso. É uma abordagem que já foi usada no passado. Por vezes,  prendeu opositores e os acusou de sabotagem quando a economia e os serviços básicos entraram em colapso. No passado, as tramas foram inventadas principalmente com fins políticos; agora estão cada vez mais reais. 

Nas últimas duas semanas, o governo anunciou a prisão de dois integrantes do alto escalão da Guarda Nacional Venezuelana, um congressista e quase uma dezena de outras pessoas, muitas delas com menos de 30 anos. 

A Organização da Justiça Venezuelana, uma entidade dedicada à defesa dos direitos humanos, diz que, atualmente, cerca de 150 pessoas estão atrás das grades. 

Desespero e prisões

O que está claro é a profundidade do desespero que se espalhou pela Venezuela, à medida que o país se transformou em um estado falido e anárquico, onde o crime é desenfreado. Aqueles que podem estão deixando o país e a fome atinge boa parte dos 30 milhões de habitantes do país. Ao longo do último ano, houve várias rebeliões em pequena escala, em grande parte desconexas. 

As autoridades dizem que 34 pessoas, incluindo líderes da oposição e ex-manifestantes estudantis, conspiraram no ataque com drones. O presidente escapou ileso, mas grande parte do país assistiu na televisão, ao vivo, a centenas de soldados dispersos após as explosões, o que causou profundos embaraços ao governo. 

Entre os detidos estão um general e um coronel da Guarda Nacional e um congressista, Juan Requesens. Ele foi acusado de tentativa de homicídio e traição. 

O governo divulgou um vídeo de Requesens, que mostra ele aparentemente respondendo a um interrogador e reconhecendo a participação na trama. Seu partido diz que ele foi coagido e estava drogado. Outro vídeo que seus seguidores vazaram mostra-o em estado deprimente e quase sem roupas. 

As autoridades estão buscando mais 20 suspeitos, incluindo um parlamentar que está no exílio. Muitos dos suspeitos estão em países da América Latina e nos Estados Unidos. 

O governo acusou Júlio Borges, ex-chefe do Congresso liderado pela oposição na Venezuela, de ser um dos líderes da operação. O parlamentar fugiu para a Colômbia no início deste ano. Borges negou envolvimento e disse que os ataques foram perpetrados dentro das próprias fileiras do governo. 

Soldados de Camisetas

 Um grupo que se responsabiliza pela tentativa é uma rede de ativistas online chamada Soldados de Camiseta, em homenagem ao modo como manifestantes de rua escondem seus rostos do atentado. O conspirador que escapou da perseguição, no entanto, não acredita que eles sejam as pessoas que conheceu em Bogotá. 

O grupo Soldados de Camisetas formou-se após uma onda de inquietação contra o governo em 2014. Seu site na internet e suas contas nas redes sociais são populares entre manifestantes e grupos de resistência por causa das atualizações sobre protestos e as notícias críticas ao governo. 

No ano passado, o grupo começou a difundir mensagens e vídeos de Oscar Perez, um policial de elite que comandou um helicóptero e convocou os venezuelanos a se levantarem contra o governo. Forças de segurança o mataram em janeiro em um tiroteio de uma hora de duração que foi, em parte, transmitido pelas mídias sociais. 

Um dos líderes do movimento, que se identificou como Gregory, confirmou a morte de Perez no dia do ataque em uma entrevista ao site em espanhol da CNN. “Qualquer que seja seu papel no ataque mais recente, o grupo está crescendo” 

"Isto não é uma derrota", disse ele. "O governo quer vê-lo como um troféu, mas há mais de nós. Somos milhares".

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