A polícia de Nova Orleans vai iniciar nesta quarta-feira uma estratégia de retirada forçada dos sobreviventes do Furacão Katrina na cidade submersa em águas contaminadas, na medida em que as autoridades tentam ampliar os esforços para reduzir o impacto da tragédia que pode chegar a milhares de mortos e os prejuízos que ultrapassam US$ 150 bilhões (cerca de R$ 350 bilhões).
Após dias de tentativas frustradas de retirar os mais de dez mil sobreviventes que se recusam a deixar suas casas desde a passagem do furacão, autoridades decidiram executar as ordens de expulsão. O prefeito da cidade Ray Nagin disse que a água misturada com lixo, óleo e corpos em estado avançado de putrefação pode transmitir doenças e que, por isso, a população deve se afastar das regiões inundadas, mesmo contra a vontade dos moradores. Cinco pessoas teriam morrido no Sul dos EUA de doenças relacionadas à má qualidade da água.
O Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC, na sigla em inglês) disse que furacões que afetam o Primeiro Mundo não costumam ser seguidos da disseminação de cólera, tifo, disenteria e outras doenças. Corpos em decomposição não causam geralmente doenças, acrescentou o órgão.
- O que eu ouvi do CDC é que epidemias depois de furacões são algo como um mito exagerado - disse Mark Shah, médico que está ajudando a coordenar os esforços em Baton Rouge, capital da Louisiana.
O prefeito instruiu todas as forças de segurança a "completar a evacuação de todos os cidadãos, não importando se estão em propriedade privada ou se não desejam sair", segundo comunicado.
O chefe da polícia local, P. Edwin Compass, disse que as equipes "farão de tudo para tornar esta cidade segura".
- Estas pessoas não entendem que estão colocando suas vidas em perigo - disse ele.
Os moradores da cidade, conhecida pelo jazz e pelo carnaval, temem ser levados para regiões do país em que não teriam parentes nem opções de subsistência. Martha Smith-Aguillard, de 72, disse ter sido levada contra sua vontade para o centro de convenções municipal. Seu pé estava inchado porque ela tropeçou em um prego enferrujado, e queria uma vacina antitetânica, mas recusou-se a embarcar no helicóptero do governo.
- Eles foram grosseiros e não prestaram atenção ao que eu dizia. Nunca estive em um helicóptero na minha vida, nem num avião, e tenho 72 anos. Não vou receber a vacina. Acho que vou simplesmente morrer. E se eu tenho que morrer, que seja aqui em Nova Orleans - disse.
A demora e a desorganização dos trabalhos de resgate continuam provocando uma crise política. Muitos dizem que era fácil prever a inundação de Nova Orleans, decorrente do rompimento de uma barragem que protege a cidade, situada parcialmente abaixo do nível do mar, das águas de um lago vizinho.
O presidente George W. Bush anunciou que comandará uma investigação sobre as falhas do governo na resposta à tragédia.
- Haverá muito tempo para entender o que deu certo e o que deu errado. Estou interessado em salvar vidas - disse.
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