O presidente da Itália, Giorgio Napolitano, descartou nesta sexta-feira um retorno antecipado às urnas enquanto os partidos do país discutem sobre como formar um governo após a eleição desta semana que resultou num impasse político.
Falando durante uma visita de Estado a Berlim, Napolitano disse que a Itália precisa de um governo estável e que não é possível realizar imediatamente uma nova eleição.
"Não estou interessado em voltar a eleições novamente", disse ele a jornalistas nos bastidores de um evento na Universidade Humboldt.
O mandato de Napolitano termina em meados de maio, mas ele disse que seu sucessor seria igualmente relutante em convocar uma nova votação.
"Eu duvido que um novo presidente estará pensando apenas em novas eleições. Nós vamos ter que ver como dar à Itália um governo", afirmou o chefe de Estado.
Napolitano fez os comentários no momento em que os três principais blocos no Parlamento estão às voltas com as consequências de uma votação que não deixou nenhum com uma maioria viável, e reavivou temores de um retorno da crise da dívida da zona euro.
Dados econômicos nesta sexta-feira enfatizaram a importância dos problemas que um novo governo terá de enfrentar, com o desemprego entre os jovens subindo para um recorde de quase 39 por cento e a dívida pública em 127 por cento do Produto Interno Bruto.
O líder do Partido Democrático (PD), Pier Luigi Bersani, cuja coalizão de centro-esquerda tem maioria na Câmara, mas não possui cadeiras suficientes para controlar o Senado, descartou uma "grande coalizão" com a centro-direita de Silvio Berlusconi.
"Eu quero soletrar claramente: a ideia de uma grande coalizão não existe e nunca vai existir", disse ele ao jornal La Repubblica em uma entrevista nesta sexta-feira.
Isto eliminou uma das duas aparentes opções para um novo governo, ao fechar a porta para uma aliança formal entre os dois maiores partidos -- que apoiaram o governo tecnocrata do primeiro-ministro de saída, Mario Monti.
Nesta sexta-feira, Berlusconi apareceu no tribunal em um dos três julgamentos que está enfrentando atualmente e negou as acusações de fraude fiscal. Ele também rejeitou as acusações de que pagou propina para derrubar o governo de centro-esquerda em 2006.
O Movimento 5 Estrelas, do comediante Beppe Grillo, que obteve muitos votos de protesto e se tornou a terceira força da Itália na eleição, descartou a possibilidade de dar um voto de confiança a outro partido, mas diz que pode apoiar leis individuais.
Em um sinal das tensões, o comediante e blogueiro acusou o PD de tentar convencer alguns membros do 5 Estrelas a apoiar um governo de centro-esquerda.
"O Movimento 5 Estrelas, os seus deputados, seus militantes e eleitores não estão à venda. Bersani já acabou e ele não percebeu isso", declarou ele em um post no blog.
Grillo descreveu o ex-ministro da Indústria, de 61 anos, como um "homem morto falando" e disse que o próximo governo não vai durar mais de um ano.
Sem apoio da maioria em ambas as Casas do Parlamento, um governo não consegue aprovar leis ou ganhar um voto de confiança, e o impasse entre os partidos tornou completamente incerto como um novo governo poderia ser formado.
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