Encontre matérias e conteúdos da Gazeta do Povo
Violência na Ucrânia

Presidente ucraniano anuncia eleições antecipadas e governo de coalizão

Protesto contra o governo, em Kiev, nesta sexta-feira | REUTERS/Yannis Behrakis
Protesto contra o governo, em Kiev, nesta sexta-feira (Foto: REUTERS/Yannis Behrakis)

Após horas de negociações, o presidente da Ucrânia, Viktor Yanukovich, anunciou nesta sexta-feira que prevê a realização de uma eleição presidencial antecipada, um governo de coalizão e um reforma constitucional que reduz seus poderes. As concessões, uma tentativa de solucionar a violenta crise política com a oposição pró-europeia, foram aceitas pela oposição.

O presidente ucraniano cede, assim, a alguns pedidos de parte dos opositores, que ocupam há três meses a Praça da Independência, em Kiev, mas que poderiam ser insuficientes para a população após os violentos protestos que deixaram mais de 70 mortos no país desde terça-feira.

"Anuncio o início de um processo de eleição presidencial antecipada", afirmou Yanukovich em um comunicado, sem especificar a data. "Inicio também o processo de retorno à Constituição de 2004, que dá mais poderes ao Parlamento, e a formação de um governo de unidade nacional", completou.

As delegações europeias não descartaram a possibilidade da assinatura de um acordo "temporário", mas expressaram muita prudência. No Twitter, o ministro polonês das Relações Exteriores, Radoslaw Sikorski, disse que as negociações estão em uma fase "delicada".

"Momento delicado a respeito do acordo para solucionar a crise na Ucrânia. Todas as partes devem lembrar que um compromisso não pode satisfazer em 100% a todos", escreveu o chanceler.

Três ministros europeus realizaram a mediação entre o governo ucraniano e a oposição: o chefe da diplomacia francesa, Laurent Fabius, seu colega alemão Frank-Walter Steinmeier, e o polonês Radoslaw Sikorski. Eles devem ter um encontro com o presidente ao longo do dia.

Banho de sangue em Kiev

A pressão aumentou quando Alemanha, Estados Unidos e Rússia se pronunciaram por uma solução política para a crise, que está criando uma tensão digna da Guerra Fria entre Moscou e os governos ocidentais.

"É preciso cessar o banho de sangue", assinalou um comunicado difundido por Berlim.

A violência tomou conta da Ucrânia na quinta-feira, com pelo menos 100 mortos em Kiev, segundo a oposição. Segundo o balanço mais recente do ministério da Saúde, 77 pessoas morreram desde terça-feira nos confrontos com a polícia, que usou munição real em "legítima defesa". Outras 577 pessoas ficaram feridas e 369 permanecem hospitalizadas.

As mortes durante violentos confrontos obrigaram o presidente ucraniano a aceitar a proposta internacional que prevê eleições antecipadas no país.

Armados com bastões, escudos com pregos, pedras e coquetéis molotov, centenas de manifestantes radicais enfrentaram a Polícia de Choque Berkut, que revidou com balas de borracha e bombas de gás lacrimogêneo. Mas, segundo testemunhas, atiradores estavam posicionados nos altos dos prédios com fuzis. O ministério do Interior reconheceu, posteriormente, que agentes dispararam com munição convencional, alegando que estavam protegendo suas vidas. Os disparos procederam tanto de policiais no solo quanto de agentes posicionados em prédios. Pelo menos três policiais morreram na quinta-feira, que se somam aos dez agentes mortos nos dois dias anteriores. Em Lviv (oeste), os corpos de dois agentes foram encontrados numa base policial queimada, anunciaram as autoridades locais.

Imagens exibidas por uma rede de televisão ucraniana mostram homens armados com fuzis, aparentemente integrantes das forças de segurança. Um deles abre fogo contra um alvo não identificado, no centro de Kiev.

"Os manifestantes foram mortos de maneira muito profissional por atiradores emboscados que atingiam as vítimas no coração, na cabeça ou na carótida", afirmou a médica Olga Bogomolets, entrevistada pela rede Kanal 5.

Após uma trégua nos confrontos, manifestantes reforçaram as barricadas no centro da cidade com tapumes e pneus, e garrafas vazias foram levadas para serem transformadas em coquetéis molotov.

"O pior cenário que podíamos prever, o de uma guerra civil, infelizmente é muito real", declarou o primeiro-ministro polonês, Donald Tusk. "Foi decidido com Yanukovytch a realização de eleições presidenciais e parlamentares este ano e a formação de um governo de união nacional nos próximos dez dias para mudar a constituição até o verão (hemisfério norte). Mas a experiência nos mostrou que os compromissos assumidos pela administração ucraniana raramente são respeitados".

Sanções aumentam

Enquanto isso, outros ministros das Relações Exteriores da União Europeia, reunidos em Bruxelas, aumentaram a pressão, decidindo cancelar os vistos e congelar os bens de autoridades ucranianas.

Depois que a crise na Ucrânia atingiu o auge, a chanceler alemã, Angela Merkel, o presidente americano, Barack Obama, e o presidente russo, Vladimir Putin, conversaram por telefone para discutir uma solução que acabe com o derramamento de sangue. Os três concordaram que é preciso encontrar uma solução política para a crise na Ucrânia o mais rápido possível, indicou o governo alemão.

A Casa Branca se disse escandalizada com os ataques a tiros das forças de segurança contra os manifestantes na Ucrânia, e novamente exortou o presidente Viktor Yanukovytch a retirar os policiais do centro da capital. O vice-presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, advertiu Yanukovytch que Washington adotará sanções se funcionários do governo ucraniano ordenarem disparos contra os manifestantes opositores. Biden falou com o líder ucraniano por telefone e deixou claro que os Estados Unidos estão preparados para aplicar sanções contra os funcionários responsáveis pela violência.

Enquanto especialistas consideram que a Rússia é fundamental para que a crise seja solucionada, Moscou tem mantido uma posição muito firme. O chefe de governo, Dmitri Medvedev, explicou que seu país vai cooperar apenas com um poder que não aceita ser pisado. O Kremlin indicou durante a tarde que vai enviar seu representante, o delegado de direitos humanos Vladimir Lukin, a pedido da Presidência ucraniana, para participar de uma mediação com os opositores.

A onda de contestação no país começou em novembro de 2013 após a desistência do presidente ucraniano em assinar um acordo com a União Europeia, optando por se reaproximar de Moscou.

Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Principais Manchetes

Receba nossas notícias NO CELULAR

WhatsappTelegram

WHATSAPP: As regras de privacidade dos grupos são definidas pelo WhatsApp. Ao entrar, seu número pode ser visto por outros integrantes do grupo.