Os presidentes do Paraguai, Fernando Lugo, da Bolívia, Evo Morales, da Venezuela, Hugo Chávez, e do Equador, Rafael Corrêa, defenderam nesta quarta-feira (17), ao final da Cúpula América Latina Caribe (CALC), a revisão da dívida externa dos países da região. Corrêa foi o primeiro a anunciar a iniciativa nesta semana, dando um calote de aproximadamente US$ 6 bilhões. Entre as dívidas consideradas ilegítimas está um contrato firmado com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) de US$ 243,9 milhões.
O presidente do Paraguai, Fernando Lugo, disse que mesmo antes de assumir o cargo e do surgimento da crise financeira internacional já falava em revisão da dívida e que isso faz parte do compromisso que firmou com a sociedade paraguaia. "A dívida externa se tornou num sistema de dependência. Antes da crise já falávamos no Paraguai em revisão. E o que falamos é um compromisso assumido com a sociedade. E o compromisso com a cidadania é que a dívida externa precisa ser analisada para ver sua legitimidade e o seu valor ético", comentou.
Já sobre a negociação em relação a hidrelétrica de Itaipu, o presidente Lugo evitou muitos detalhes da conversa que teve com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva nesta quarta-feira (17). "Itaipu é um dos capítulos das relações entre Brasil e Paraguai. Até agora, temos relações muito respeitosas e isso não quer dizer que não teremos diferenças", limitou-se a dizer.
O assessor especial da presidência da República, Marco Aurélio Garcia, contou que em janeiro haverá uma reunião em nível ministerial para tratar do tema e que se for necessário os dois presidentes se reunirão para fechar um acordo. Segundo ele, as questões técnicas já foram resolvidas.
O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, disse que apesar de não pensar em fazer uma moratória na sua dívida externa apóia o Equador e os outros países que agirem dessa forma. "Isso é aplicável em toda América Latina e em países pobres. Na Venezuela, nesse momento, não temos uma comissão fazendo a revisão da dívida. Já fizemos uma revisão e fizemos mudanças radicais. Nós não estamos fazendo revisão, mas apoiamos o Equador e acho que o Terceiro Mundo devia fazer uma revisão da dívida externa. Saber quantas vezes ela foi paga e quanto ainda falta pagar. Acho que teremos uma grande surpresa", salientou.
Ao lado de Lula, Corrêa defendeu o calote da dívida, inclusive a parte brasileira. Ele aproveitou ainda para criticar a postura do Brasil que determinou o retorno do embaixador brasileiro daquele país. Segundo ele, a pendência entre os dois países é "comercial", mas infelizmente "se tornou um problema diplomático". Corrêa disse que não tomaria a mesma atitude do Brasil.
O presidente da Bolívia, Evo Morales, também disse que reverá sua dívida externa. "As dívidas contraídas nas ditaduras e nos governos neoliberais sob condições neoliberais devem ser canceladas e condenadas. Mas, têm outras dívidas regionais com objetivo de investimentos nos Estados e os governos têm responsabilidade e devem reconhecer essas dívidas", comentou.
Ele pediu ainda que os países ricos perdoem a dívida de países pobres como a Bolívia para facilitar seu desenvolvimento.