Ali Hassan al-Majeed, o outrora temido primo de Saddam Hussein conhecido como "Ali Químico", foi condenado à morte por um tribunal especial iraquiano durante audiência realizada nesta terça-feira (2).
A sentença foi divulgada logo depois de ele ter sido considerado culpado de crimes contra a humanidade durante a repressão a uma rebelião xiita no sul do Iraque em 1991.
Antes da condenação desta terça, Ali Hassan al-Majid já havia sido sentenciado à morte anteriormente - no ano passado, quando foi considerado culpado de envolvimento na morte de dezenas de milhares de curdos, durante a Operação Anfal, no crepúsculo da Guerra Irã-Iraque (1980-1988). Na ocasião, na cidade de Halabja, as forças de Saddam usaram gás mostarda para matar 2,5 mil civis curdos, principalmente mulheres e crianças. Após a Operação Anfal, al-Majid ganhou o apelido de "Ali Químico". O cumprimento da sentença foi adiado por questões jurídicas.
Abdul-Ghani Abdul-Ghafur, ex-diretor do Partido Baath, também foi condenado à morte na audiência desta terça. Enquanto era lida a sentença, ele gritou "morte à ocupação americana do Golfo Pérsico". Ambos deverão ser enforcados.
"Cale-se, baathista imundo", ordenou o juiz do caso, Mohammed Oreibi al-Khalifa, a Abdul-Ghafur, em referência ao Partido Baath, agremiação política atualmente proscrita no Iraque e que era dirigida pelo ex-ditador Saddam Hussein.
Outros quatro réus no processo pela repressão aos xiitas foram condenados a prisão perpétua; seis acusados receberam sentença de 15 anos de prisão; e três foram absolvidos.
Entre os condenados a 15 anos de prisão encontra-se o ex-ministro da Defesa Sultan Hashim Ahmad al-Tai.
O julgamento foi um dos cinco previstos contra antigos líderes do regime de Saddam, derrocado em 2003 pela invasão americana do Iraque. Dois outros julgamentos estão em curso e outros estão planejados.
No primeiro julgamento, Saddam foi condenado pela matança de 140 xiitas após uma tentativa fracassada de assassinato contra ele, na cidade de Dujail, em 1982. O ex-ditador foi enforcado em dezembro de 2006.
Após a derrota de Saddam na Guerra do Golfo no começo de 1991, os xiitas do sul do Iraque e os curdos do norte se levantaram em rebelião contra o ditador, tomando o controle de 14 das 18 províncias do Iraque. As forças americanas criaram um santuário para os curdos em três províncias do norte, impedindo que Saddam atacasse os rebeldes, mas não fizeram o mesmo no sul, onde o ditador voltou sua fúria contra os xiitas.
As tropas de Saddam esmagaram a rebelião e mataram dezenas de milhares de pessoas, apesar dos apelos dos xiitas aos EUA para que interviessem.
Violência
Nesta terça-feira, pelo menos 14 pessoas foram mortas no Iraque em três atentados diferentes a bomba, ao norte e ao sul de Bagdá.
Os ataques ocorrem apenas um dia após outros atentados terem deixado mais de 30 pessoas mortas no país, em uma nova onda de violência.
Um suicida que dirigia um carro-bomba detonou os explosivos perto de um posto de controle policial na cidade de Tal Afar, matando pelo menos cinco pessoas, incluído um policial rodoviário, e ferindo outras 25, de acordo com a polícia e funcionários do hospital.
Já na cidade de Mossul, no norte, uma bomba colocada em uma caixa do correio explodiu e matou quatro civis que estavam próximos ao artefato, informou um policial. Outros 12 civis ficaram feridos.
Já em Iskandariyah, 50 quilômetros ao sul de Bagdá, uma bomba explodiu à beira de uma rua e matou cinco soldados de uma patrulha iraquiana que passava pelo local no momento, além de destruir um veículo militar Humvee, disse um policial iraquiano.
Direitos humanos
A missão das Nações Unidas no Iraque expressou nesta terça "séria preocupação" com a superlotação carcerária e o tratamento dos detentos que estão sob custódia das autoridades iraquianas, no mais recente relatório sobre os direitos humanos no país.
O relatório, que cobre a primeira metade deste ano, também coloca em destaque os chamados "assassinatos de honra" contra mulheres no norte e sul do Iraque.
Staffan de Mistura, representante especial das Nações Unidas no Iraque, cita o caso de uma prisão onde 123 detentos dividem uma cela de 50 metros quadrados. Além disso, segundo ele, os detentos sofrem torturas e maus tratos nas cadeias.
Ele também disse que a violência contra a mulher é maior, incluídos os assassinatos de mulheres pelas próprias famílias, por supostas ofensas das vítimas à honra do grupo familiar. Ele alerta que o problema é ainda maior no semi-autônomo Curdistão e na região de Basra, no sul, controlada pelos xiitas. As informações são da Associated Press.