Numa aparente tentativa de desalojar a resistência armada, o Exército sírio bombardeou bairros próximos ao centro de Damasco na noite de domingo (15). Nas redes sociais, moradores diziam que ainda não tinham acontecido combates tão intensos e tão violentos em áreas centrais da capital. O Exército teria fechado a estrada para o aeroporto, e moradores disseram ter visto francoatiradores no telhado de prédios e casas. A ação aconteceu depois que observadores da ONU que estiveram em Tremseh confirmaram o uso de artilharia pelas tropas sírias e afirmaram que o principal alvo do ataque foram ativistas de oposição e desertores do Exército. O porta-voz do governo da Síria, Jihad Makdissi, rebateu as acusações. Em todo o país, segundo ativistas, foram 57 mortes no domingo, 37 delas de civis.
Dá para ouvir explosões e ver colunas de fumaça. Nunca havia tido tanta intensidade - afirmou um ativista da oposição, morador da capital, que até domingo só havia sido palco de combates noturnos, a maioria na periferia.
Quando anoitecia, ativistas disseram que a luta estava se espalhando da parte sul da cidade para uma segunda área e que as tropas governamentais haviam fechado a estrada de acesso ao aeroporto. Vários moradores afirmaram estar ouvindo fortes explosões, constante troca de tiros e o som frequente de sirenes.
Não posso acreditar, parece incrivelmente perto. Escuto tiros e outras coisas, como explosões. Posso ouvir os sons de ambulâncias passando correndo. Estou com tanto medo. Pessoas podem morrer esta noite - disse um morador de um bairro perto da área dos confrontos, contatado por telefone.
O ativista Samir al-Shami, que estava em Damasco e falou à Reuters pelo Skype, disse que estava havendo luta no bairro de al-Tadamon, na parte sul da capital síria, depois que combates contínuos ocorreram no anoitecer de sábado em Hajar al-Aswad, distrito vizinho em Damasco. - Há o som de artilharia pesada. E há fumaça saindo da área. Também há alguns feridos e os moradores estão tentando fugir da região", ele disse, mostrando ao vivo imagens de fumaça no horizonte.
Mais cedo, uma explosão atingiu um ônibus levando forças de segurança em Damasco e feriu várias pessoas, segundo ativistas. Moradores disseram ter ouvido uma forte explosão, seguida de sirenes de ambulâncias indo em direção à parte sul do anel viário de Damasco.
A agência estatal SANA deu uma versão diametralmente oposta para os combates no sul da cidade. De acordo a agência oficial, "um grupo terrorista" provocou explosões no bairro Al Tadamon, mas foi descoberto pelas forças de segurança. Pouco tempo depois, a agência interrompeu seu sinal.
Governo da Síria nega uso de armas pesadas em Tremseh
Mais cedo, o porta-voz do governo da Síria, Jihad Makdissi, havia rebatido as acusações de que helicópteros e artilharia pesada tenham sido usados no ataque ao povoado de Tremseh, onde ativistas da oposição afirmam ter acontecido um massacre. Segundo, ele, as armas mais pesadas usadas na operação foram lançadores de granada em resposta aos grupos armados na região. Ele também classificou como 'precipitada' e 'não baseada em fatos' a carta enviada pelo enviado especial das Nações Unidas à Síria, Kofi Annan, na qual ele alega que helicópteros e artilharia foram usados.
O massacre de Tremseh, um vilarejo agrícola nos arredores de Hama, é denunciado pela oposição como o maior do levante. Seriam mais de 220 mortes, a maioria de civis. No fim de semana, observadores da ONU conseguiram chegar ao local e, embora não tenham conseguido quantificar as mortes, constataram o uso de artilharia pesada contra civis - o que foi veementemente negado ontem pelo regime.
- As forças do governo não usaram aviões, tanques ou artilharia. Não foi um massacre, e sim uma operação militar - disse Jihad Makdissi, porta-voz da Chancelaria síria, que apontou apenas duas mortes de civis no vilarejo. - (As acusações das Nações Unidas) foram demasiadamente apressadas e não estão de acordo com os fatos.
Para reforçar sua versão, o regime apresentou neste domingo os supostos culpados. Na TV estatal, dois homens, identificados como "assassinos e terroristas", contam como foram recrutados para participar de execuções em al-Taremseh. Os alvos, de acordo com eles, seriam casas de soldados. Depois, ainda segundo a versão, o Exército sírio interveio para "combater os terroristas", matando 37 deles.
Irã e Rússia prontos para conduzir negociação
A intensificação da violência levou o Comitê Internacional da Cruz Vermelha a qualificar a situação como "conflito armado não internacional", a definição legal usada pela organização para se referir a uma guerra civil - o que significa dizer que o direito humanitário internacional se aplica em qualquer circunstância aos locais onde aconteçam combates na Síria. O Direito Internacional Humanitário concede às partes em conflito o uso apropriado de força para alcançar seus objetivos. Ataques contra civis, abusos ou mortes desnecessárias podem constituir crimes de guerra.
Coincidindo com a escalada da violência, o Kremlin anunciou neste domingo que o presidente da Rússia, Vladimir Putin, se reunirá na terça-feira com o enviado especial da ONU e da Liga Árabe à Síria, Kofi Annan, em Moscou. Ao lado da China, a Rússia é o principal opositor à aplicação de sanções internacionais contra o regime de Assad e até agora, apesar de apoiar o plano de paz de Annan, vem se mantendo distante de qualquer tarefa de mediação na crise.
Segundo o Kremlin, o objetivo do encontro será reforçar a posição russa de apoio ao plano de Annan, o mesmo que o próprio enviado especial já disse ter sido violado sistematicamente. Também ontem, o Irã se ofereceu para receber a oposição síria para dialogar sobre o conflito. Apesar da insistência de Annan, os EUA se recusam a aceitar a participação de Teerã em negociações sobre o conflito.
Ao mesmo tempo, o Irã anunciou estar pronto para conduzir as negociações entre o governo sírio e os grupos de oposição segundo o ministro das Relações Exteriores, Ali Akbar Salehi. O comunicado divulgado neste domingo indica uma mudança de postura do governo iraniano, que até agora apoiava o presidente sírio Bashar al-Assad e acusava o ocidente de se meter nos assuntos internos do país.
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