Três renomados advogados internacionais denunciaram torturas sistemáticas e execuções de 11 mil prisioneiros na Síria desde o começo do conflito, em 2011, segundo revelou nesta terça-feira (21) o jornal britânico The Guardian.
Os autores do relatório analisaram milhares de fotografias do governo sírio e arquivos que registram a morte de pessoas detidas pelas forças de segurança do regime desde março de 2011 até agosto do ano passado.
Os três responsáveis pelo documento são o ex-promotor da corte especial para Serra Leoa, Desmond de Silva; o ex-promotor do caso do ex-presidente iugoslavo Slobodan Milosevic, Geoffrey Nice, e o professor David Crane, que processou o presidente da Líbéria, Charles Taylor, em um tribunal de Serra Leoa.
De acordo com a denúncia, a maioria das vítimas eram homens jovens e muitos dos corpos apresentavam sinais de torturas, como choques elétricos. O documento foi encarregado pelo Catar, que apoia os rebeldes sírios.
O relatório é baseado nos registros feitos por um fotógrafo da polícia, conhecido apenas como "César", que tinha em seu poder 55 mil imagens digitais de 11 mil detidos, mortos após decidirem desertar.
O The Guardian afirma que apesar das organizações humanitárias documentaram abusos por parte do governo sírio e dos grupos rebeldes, este relatório é o mais detalhado e o mais extenso que já foi feito sobre o conflito.
"César" conseguiu enviar as imagens da Síria graças a contato no Movimento Nacional Sírio, apoiado pelo Catar.
O relatório será entregue à ONU, a governos e a organizações humanitárias, segundo o The Guardian. As revelações coincidem com a conferência de paz Genebra 2, que será realizado a partir de quarta-feira (22) na Suíça.
"César" revelou aos advogados que seu trabalho consistia em "fazer fotos de detidos mortos", mas afirmou que não foi testemunha de execuções ou torturas.
"Quando os detidos eram mortos nos locais onde estavam presos, seus corpos eram levados para um hospital militar", onde "César" tinha que fotografá-los, explica o documento.
De acordo com o texto, "podia haver até 50 corpos por dia para fotografar, (algo) que requeria um trabalho de 15 a 30 minutos por corpo".
Segundo o The Guardian, as autoridades justificavam as mortes para as famílias por "ataque cardíaco" ou "problemas respiratórios".
O jornal acrescenta que vários legistas estudaram as 55 mil imagens dos 11 mil mortos.
Desmond de Silva disse ao diário britânico que as provas "documentam massacres em escala industrial".
O professor Geoffrey Nice afirmou que o alcance das torturas significam provas contundentes sobre a participação do governo e poderia ser motivo de um processo criminal.
A equipe que elaborou o documento considera que o relatório contém provas que podem ser aceitas por um tribunal.
O governo sírio não quis comentar o documento, mas negou acusações de violações dos direitos humanos durante o conflito civil.
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