Opositores bolivianos anunciaram nesta terça-feira (2) uma nova onda de protestos e ameaçaram boicotar o referendo constitucional de janeiro, em protesto contra a detenção de ativistas acusados de atos violentos em manifestações que há dois meses deflagraram uma crise política no país.
Dirigentes do departamento de Santa Cruz, no leste do país, e outros três distritos onde se concentra o protesto contra as mudanças políticas e econômicas instituídas pelo presidente indígena Evo Morales disseram que farão paralisações cívicas, marchas e mobilizações nas ruas para impedir mais detenções.
"Se tivermos de repetir a luta de setembro junto ao povo, vamos fazê-lo, assumindo todas as conseq¼ências", desafiou o governador do distrito de Tarija, Mario Cossío, em uma declaração a rádios após um encontro de dirigentes regionais de oposição.
Embora Morales e a oposição tenham selado um pacto em outubro sobre autonomia a fim de possibilitar o referendo de uma nova Constituição em 25 de janeiro, a Justiça deu continuidade a processos iniciados pelo governo por causa dos protestos que deixaram cerca de 20 mortos e prejuízo econômico milionário.
Apenas na última semana foram detidos e acusados formalmente de terrorismo e outros delitos mais de 20 ativistas dos departamentos de Santa Cruz, Tarija e Pando, que se somaram ao ex-governador de Pando Leopoldo Fernández, preso desde meados de setembro.
Alberto Melgar, líder cívico do departamento de Beni, disse a repórteres que os opositores regionais "não vão permitir mais detenções ilegais".
"Se não forem devolvidos a suas regiões todos os cidadãos, vamos parar o referendo constitucional em nossos departamentos", anunciou ele, após se reunir com o prefeito de Santa Cruz, Rubén Costas.
"Perseguição política"
No último fim de semana, o governo disse que também apresentou uma denúncia por terrorista contra o líder popular de Santa Cruz Branko Marinkovic, chefe do movimento por autonomia ao lado do governador direitista Costas.
Costas declarou sua região "em emergência" e, em declarações a uma rádio, expressou: "Estamos ante uma perseguição política que responde ao afã totalitarista do governo, mas vamos resistir agora e levar nossa luta até dizer 'Não' à nova Constituição."
A primeira das novas propostas, uma paralisação cívica, está convocada para quarta-feira em Tarija, em apoio ao líder Reynaldo Bayard e a outros cinco ativistas processados por atacar um gasoduto de exportação na região de Chaco, que afetou o bombeamento para a Argentina e para o Brasil.