Autoridades e dirigentes cívicos de quatro dos nove Departamentos da Bolívia convocaram na segunda-feira uma resistência civil contra a intenção do presidente Evo Morales de conceder autonomia aos povos indígenas.
A convocação ocorreu enquanto uma proposta de mudança da sede do governo provocava duros confrontos entre outras duas regiões, La Paz e Chiquisaca, três dias antes de a Assembléia Constituinte do país iniciar o debate final sobre a nova Constituição.
Os representantes dos Departamentos onde se concentra a oposição direitista, entre eles Santa Cruz e Tarija, os mais ricos em petróleo e gás, declararam uma "mobilização cidadã para a organização da resistência civil e democrática" contra o projeto governamental de reforma.
Eles acrescentaram, em comunicado emitido após uma reunião em Santa Cruz de la Sierra, que organizarão manifestações populares em 2 de julho para exigir autonomia para os distritos que formam a chamada "Meia-Lua", onde a oposição é mais forte.
No dia 2 de julho se completa um ano do referendo sobre a autonomia regional, em que o "não" venceu em nível regional, enquanto o "sim" foi majoritário na "Meia-Lua". A mesma consulta determinou que o assunto seja elucidado definitivamente pela Constituinte.
O alcance das autonomias é por enquanto o tema mais conflituoso na Constituinte, que tem até 6 de agosto, a data nacional do país, para aprovar a nova Constituição, com a qual Morales pretende "refundar" a Bolívia, dando participação decisiva aos povos indígenas, que formam a maioria da população.
Enquanto a "Meia-Lua" exige que a autonomia seja aplicada aos Departamentos, Morales propõe ampliá-la para os povos indígenas, num confronto em que as partes se acusam mutuamente de buscar o fracasso da Constituinte e até a divisão do país.
Paralelamente ao conflito pelas autonomias, autoridades e líderes políticos de La Paz declararam na segunda-feira "mobilização permanente" contra uma proposta de transferir todo o governo para a cidade de Sucre (sul), capital do Departamento de Chuquisaca e sede do Judiciário.
Os representantes de La Paz, onde funcionam os poderes Executivo e Legislativo, ameaçaram com uma greve nacional e outros protestos para impedir que o tema da capital seja incluído na reforma constitucional.
Os dirigentes de Sucre, por sua vez, conseguiram o apoio da "Meia-Lua" e disseram estar dispostos a levar o tema a referendo.
Sucre, cidade onde a Bolívia foi fundada, em 1825, foi sede do governo até o final do século 19, quando uma guerra civil levou a transferência das atividades oficiais para La Paz. Mas Sucre continua oficialmente sendo considerada a capital do país, e ali foi instalada a Constituinte.