Em um relatório divulgado nesta terça-feira (9), a Comissão de Inteligência do Senado acusou a CIA de ter enganado rotineiramente a Casa Branca e o Congresso sobre informações obtidas a partir da detenção e interrogatório de suspeitos de terrorismo. Ainda de acordo com o documento, os métodos utilizados pelos agentes da CIA eram mais brutais do que os reconhecidos pela agência tanto para funcionários do governo Bush quanto para o público.
Diante de uma plateia no Senado, Dianne Feinstein afirmou que o programa de tortura da CIA é uma mancha para os Estados Unidos e considerou a apresentação do relatório um passo para o país recuperar os seus valores. "A apresentação deste resumo de 500 páginas não pode remover essa mancha, mas pode dizer ao nosso povo e ao mundo que os Estados Unidos são grandes o suficiente para admitir quando está errado", afirmou.
O documento foi produzido em cinco anos e se baseia em mais de seis milhões de documentos internos da agência. Trata-se de uma acusação arrebatadora da operação da CIA e da supervisão de um programa realizado em prisões secretas ao redor o mundo nos anos após os atentados de 11 de setembro, em 2001. O relatório também fornece uma contabilidade macabra de algumas das técnicas usadas pelos agentes para torturar e deter suspeitos de terrorismo.
Pouco antes da divulgação do relatório no Senado, a Casa Branca emitiu um comunicado no qual o presidente Barack Obama classificou as práticas da CIA como preocupantes.
"O relatório documenta um programa preocupante envolvendo técnicas avançadas de interrogatório em suspeitos de terrorismo em instalações secretas fora dos Estados Unidos e reforça a minha tese de longa data que estes métodos duros não foram apenas inconsistente com os nossos valores como nação, como não servem para o nosso amplo esforço contraterrorismo ou os nossos interesses de segurança nacional. Além disso, estas técnicas fizeram danos significativos para a posição dos EUA no mundo e tornaram mais difícil perseguir os nossos interesses com os aliados e parceiros. É por isso que vou continuar a usar a minha autoridade como presidente para garantir que nós nunca recorreremos a esses métodos novamente", dizia o comunicado.
A divulgação do documento gerou controvérsias entre os congressistas, com alguns argumentando que as informações do documento seriam utilizadas por extremistas para incitar atos de violência.
Técnicas
A CIA recorreu a ameaças sexuais, simulação de afogamento e outros métodos brutais para interrogar suspeitos de terrorismo, e todos foram ineficazes para se obter informações essenciais, de acordo com o relatório.
As táticas empregadas para forçar os detidos a divulgar informações sobre tramas e células terroristas excediam e muito as técnicas autorizadas pela Casa Branca, pela CIA e pelos advogados do Departamento de Justiça do então presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, segundo o documento.
Casos nos quais os interrogadores da CIA ameaçaram um ou mais detidos com falsas execuções, uma prática jamais permitida pelos advogados do governo Bush, estão documentados no relatório.
O relatório conclui que os interrogatórios violentos não produziram nenhum dado de inteligência crucial que não poderia ter sido obtido com meios não coercitivos. Ex-líderes da CIA e do governo, incluindo o ex-vice presidente Dick Cheney, questionam a conclusão do documento.
Não ficou claro se a análise irá levar a novas tentativas de responsabilizar os envolvidos. O prazo legal para contestar muitas das ações prescreveu. Dois parlamentares republicanos emitiram um comunicado classificando a liberação do relatório como "leviana e irresponsável".