A posse do multimilionário Sebastián Piñera na Presidência do Chile tinha pelo menos um motivo para ser um fato histórico até ontem pela manhã. Afinal, depois de 20 anos de governo da centro-esquerdista Concertación, um novo grupo político chegou ao poder. Mas 21 minutos antes da cerimônia oficial os motivos aumentaram. Um novo tremor que atingiu a região central do país transformou o que seria uma festa em desespero.
O ato de transferência de poder foi mantido, apesar do pânico entre os presentes por causa das constantes réplicas do terremoto que balançavam o prédio do Congresso Nacional, em Valparaíso, cidade litorânea a 120 km de Santiago.
Alertado por auxiliares das consequências dos novos abalos sísmicos, Piñera nem bem recebeu a faixa presidencial de Michelle Bachelet e começou a agir. O almoço com as delegações estrangeiras, previsto no protocolo da festa, foi apenas simbólico para o presidente, que permaneceu à mesa por poucos minutos e não chegou nem a comer. Ele embarcou imediatamente para Rancagua, cidade mais atingida pela réplica de ontem. De lá partiu para Concepción, a segunda maior cidade do Chile e uma das mais afetadas pelo terremoto do dia 27.
Os novos abalos sísmicos pegaram a equipe do novo governo de surpresa. Temendo o que ocorreu no grande tremor do dia 27, quando o governo de Bachelet errou ao não alertar a população das regiões costeiras sobre os riscos de maremotos, os auxiliares de Piñera agiram rápido ontem. Assim que foi confirmado o abalo sísmico em Rancagua, a Oficina Nacional de Emergências (Onemi) divulgou alerta de tsunami. As sirenes provocaram correria em várias cidades, com as pessoas desesperadas sem saber o que fazer. Muitas fugiram para lugares mais altos. Poucas horas depois o alerta foi suspenso.
O tremor mais forte de ontem teve intensidade de 6,9 graus. Até o início da noite já haviam sido registradas 12 réplicas do tremor em várias cidades, incluindo a capital. Além de danos em estradas, os abalos interromperam momentaneamente os serviços de comunicação de parte do país. Não houve registro de mortes.
Medidas
Pressionado pela urgência em atender as vítimas dos terremotos, durante as visitas a Rancagua e Concepción o novo presidente anunciou que foram estabelecidas algumas prioridades, entre elas encontrar os desaparecidos, restabelecer os serviços básicos e reformular o programa de governo divulgado antes da catástrofe.
Na prática, no entanto, Piñera anunciou pouco. A principal medida prevê o envio ao Congresso de um projeto de lei para distribuir bônus de 40 mil pesos (R$ 150) a cada família atingida pela tragédia. Cerca de 4,2 milhões de pessoas devem ser beneficiadas.
Demonstrando ser bom de retórica, o novo chefe de Estado chileno declarou que "o bônus não significa nada diante da dor, mas é um alívio a quem mais precisa".