Um grupo de pesquisadores pegou células comuns da pele de um camungongo e as reprogramou para agir como células-tronco embrionárias, num experimento há muito esperado - ele fornece uma forma alternativa de obter essas células valiosas para a pesquisa, sem ter de sacrificar embriões no processo.

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Três estudos divulgados nesta quarta-feira (6) mostram várias maneiras de fazer o relógio andar para trás, de forma a fazer uma célula comum se comportar como uma célula-tronco embrionária - a "mãe" de todas as células especializadas do corpo.

Um quarto estudo mostrou um modo de usar embriões anormais e descartados das clínicas de fertilidade para a produção de células-tronco embrionárias.

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Todos as pesquisas foram conduzidas em camundongos e os cientistas dizem que levará algum tempo até que eles possam demonstrar a eficiência de suas técnicas com células humanas.

Como as células-tronco embrionárias são a fonte de todas as células, tecidos e órgãos do corpo adulto, os cientistas as estudam não só para compreender doenças, mas a vida como um todo, e esperam poder usar esse conhecimento para transformar a medicina.

Mas seu uso é controverso, com seus oponentes argumentando que é errado usar embriões humanos dessa maneira. O presidente americano, George W. Bush, vetou leis que expandiriam o uso de recursos federais para esse tipo de pesquisa.

A Câmara dos Representantes dos EUA deve aprovar nesta quinta-feira outro projeto promovendo o campo de estudos, mas Bush já prometeu vetá-lo novamente.

Os pesquisadores dizem não estar tentando driblar a política com os novos avanços. "A razão pela qual nós embarcamos nesses experimentos não era aparecer com uma solução para as pessoas que têm objeções às células-tronco embrionárias", diz Kevin Eggan, do Instituto de Células-Tronco de Harvard, que liderou um dos estudos. "Todos nós concordamos com a pesquisa de células-tronco embrionárias. Esses experimentos não foram motivados por um desejo de encontrar uma saída driblando essas questões."

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Em um dos estudos, Rudolf Jaenisch, do Instituto Whitehead, em Cambridge (EUA), e colegas transformaram células da pele de camundongos em células-tronco embrionárias.

Fatores vitais

Eles identificaram quatro proteínas, chamadas de fatores, que são ativas apenas em células-tronco embrionárias de camundongos, mas não nas células adultas. "Você introduz esses quatro fatores, que induzem ou empurram essas células para um processo que chamados de reprogramação", diz Jaenisch.

As células de pele comuns, que normalmente fariam apenas pele e que morreriam em laboratório após pouco tempo, em vez disso proliferaram numa cultura celular. E quando elas foram injetadas em outros embriões de camundongo, elas produziram quimeras - animais com as características genéticas de dois indivíduos diferentes.

Isso abre a possibilidade de uso de células-tronco para tratar doenças genéticas.

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Shinya Yamanaka, da Universidade de Kyoto, e colegas, que foram os primeiros a inventar essa técnica, reportaram descobertas similares num segundo artigo.

Num terceiro estudo, Eggan e colegas tentaram uma forma diferente de clonar uma célula adulta, usando um óvulo fertilizado em vez de um não-fertilizado.

O método de clonagem chamado transferência nuclear de célula somática, usado para fazer a ovelha Dolly, envolve a remoção do núcleo de um óvulo não-fertilizado, com substituição pelo núcleo de uma célula adulta.

A equipe de Eggan usou embriões anormais saídos de clínicas de fertilidade. Alguns embriões fertilizados nessas clínicas contêm dois ou mais espermatozóides. "Eles não podem virar um embrião normal", diz Eggan. Eles têm muitos cromossomos e morreriam.

A equipe de Eggan removeu esse material genético e o substituiu pelo DNA de uma célula adulta. Isso deu na mesma que a transferência nuclear de célula somática para fazer com que o óvulo começasse a se dividir.

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Eggan calcula que dezenas de milhares de embriões anormais são criados, e descartados, todos os anos.

Ele disse que ambos os métodos estão sendo testados agora com amostras de pele de pacientes que têm esclerose lateral amiotrófica, também conhecida como ELA ou doença de Lou Gehrig, uma enfermidade paralisante, fatal e incurável.