Um funcionário da organização Handicap International ajuda vítima do terremoto que perdeu uma das pernas: ajuda das ONGs é problemática, mas seria bem pior sem ela| Foto: Eduardo Muñoz/Reuters

Governo brasileiro paga indenização

As famílias dos 18 militares mortos durante o terremoto do Haiti no dia 12 de janeiro do ano passado receberam indenização de R$ 500 mil do governo brasileiro. O valor foi pago no dia 31 de dezembro. Para cada um dos 16 filhos com idade escolar dos militares há ainda um auxílio de R$ 510 mensais.

O crédito de R$ 10,1 milhões para o pagamento da indenização foi aprovado pelo Senado no fim do ano passado. Pro­­me­­tida pelo presidente Luiz Iná­­cio Lula da Silva em janeiro – na chegada dos corpos dos mi­­litares –, a indenização foi san­­cionada em junho. Mas o go­­verno só fez o pedido ao Con­­gresso de abertura de crédito em agosto.

Em nota, o Ministério da De­­fesa afirma que as famílias de­­vem fazer uma solicitação ao Exér­­cito. O valor total das bolsas foi de R$ 119 mil em 2010 e será de R$ 116 mil este ano

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"Aqui não é o inferno", afirma haitiano voluntário da Viva Rio

"No Brasil vocês pensam que o Haiti é o inferno", desabafa Espera Edwigt, haitiano de 24 anos que trabalha com a ONG Viva Rio desde 2007. Há um ano, ele sentiu o tremor de dentro da sede da organização. Desde então, de intérprete transformou-se num "faz-tudo". Chegou a ir ao Brasil, durante cinco meses, onde recebeu treinamento de brigadista e radialista pela organização carioca. Elaborou um projeto próprio para criar uma brigada haitiana que funcione 24 horas, mas, por enquanto, o custo da implementação é muito alto.

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Entrevista

"Ordens são dadas, mas ninguém faz nada"

A presença da comu­ni­dade inter­­na­­cional no Haiti, para algumas pessoas, é a única forma de fazer o país andar. Essa é a opinião do presidente emérito do think-tank Inter-American Dialogue, Peter Hakim, que esteve em Porto Príncipe três vezes após o terremoto.

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Veja a história do Haiti

Porto Príncipe - No momento em que o país mais pobre do Ocidente se viu vítima de uma tragédia desoladora, um exército de 10 mil voluntários e funcionários de organizações não governamentais (ONGs) veio em seu socorro. Hoje, aqui, ao completar um ano do terremoto que matou cerca de 230 mil pessoas, os haitianos contam com a ajuda das ONGs para ter acesso a serviços básicos – ajuda que, para muitos, ainda é altamente ineficiente. Quanto ao Estado, é como se não existisse. Nunca foi devidamente reestruturado após o evento e agora vive sob uma indefinição política.

É quase sem surpresa, portanto, que o aniversário da tragédia seja recheado de números desanimadores. A Unicef divulgou na última semana que 4 mi­­lhões de crianças continuam sem acesso a água limpa, educação e proteção contra doenças.

A Anis­­tia Inter­­nacional contabilizou 250 casos de estupro em campos de refugiados só nos primeiros cinco meses após a tragédia. A Ox­­fam escancarou a falência dos esforços de reconstrução: apenas 5% dos destroços foram removidos e só 15% das habitações, reconstruídas.

"É difícil encontrar outro contexto pós-catástrofe em que haja presença internacional tão maciça e, ao mesmo tempo, tanta autonomia sem prestação de contas", disse à Gazeta do Povo o sociólogo da Universidade Alemã de Flens­­burg, na Alemanha, Sebastião Nas­­cimento, que morou no Haiti e realizou estudos sobre o país.

Em relatório publicado na se­­mana passada, o Disaster Accoun­­tability Project concluiu que as ONGs oferecem muito pouca in­­formação sobre a utilização do dinheiro coletado. De 196 organizações pesquisadas, só 38 responderam à pesquisa da entidade. Apenas 8 foram consideradas boas prestadoras de contas.

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As 38 ONGs que responderam ao questionário declararam haver arrecadado US$ 1,4 bilhão para o Haiti, mas, no fim de 2010, apenas a metade do dinheiro havia sido destinado a projetos.

Além da falta de transparência, especialistas apontam a falta de integração do trabalho. "As or­­ganizações não dividem o di­­nhei­­ro", criticou, à Gazeta do Povo, o diretor da Fundação Canadense para as Américas, Carlo Dade.

Falta Estado

A esperança de que um mínimo de direção fosse dada ao país com a eleição do novo presidente do Haiti, que deveria tomar posse no próximo dia 7 de fevereiro, se desfaz na medida que o resultado do primeiro-turno é contestado e a realização do segundo, adiado. Os haitianos votariam no próximo domingo, mas a ONU, que mantém uma missão de pacificação no país (Minus­­tah), considera difícil que a ida às urnas ocorra antes do fim de fevereiro.