A Rússia surpreendeu a comunidade internacional ontem ao apresentar um projeto de resolução ao Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) condenando a violência na Síria perpetrada por "todas as partes", segundo uma cópia do texto ao qual agências de notícias tiveram acesso.
Aliado-chave do presidente sírio, Bashar Assad, o governo russo tentou frear a intervenção do Conselho de Segurança na crise síria e, junto com a China, vetou uma resolução do conselho proposta pelos países europeus em outubro para condenar os ataques de Assad contra os manifestantes, os quais, segundo a ONU, deixaram 5 mil mortos.
No entanto, a Rússia pediu uma reunião de emergência das 15 nações sobre a Síria para propor uma nova resolução que os diplomatas ocidentais qualificaram como inaceitável, mas que afirmaram ser negociável.
A proposta condena a violência perpetrada "por todas as partes, incluindo o uso desproporcional da força por parte das autoridades sírias".
Por sua vez, o embaixador da França nas Nações Unidas, Gérard Araud, qualificou o fato como "extraordinário" e comemorou a decisão da Rússia de sair da inação, em um comunicado divulgado pelo site da missão. Os diplomatas russos não foram encontrados para comentar a proposta.
Mortes
Ontem, desertores do Exército da Síria mataram pelo menos 27 soldados e membros das forças de segurança durante três confrontos na província de Deraa, no sul do país, afirmou o Observatório Sírio pelos Direitos Humanos, sediado no Reino Unido.
Ataques feitos por desertores do Exército estão aumentando o risco de uma guerra civil na Síria. Ao mesmo tempo, sanções dos países ocidentais e da Liga Árabe aumentaram a pressão sobre o regime do presidente Bashar Assad. Não houve reivindicação de responsabilidade pelos ataques desta quinta-feira, mas o Exército Livre da Síria, organizado a partir da Turquia pelo coronel desertor Riad Asaad, costuma assumir esses atos.
"Nossa visão é a de que o regime sírio é como um homem morto caminhando", disse Frederic Hof, funcionário do Departamento de Estado do governo norte-americano. Ele disse que é difícil prever quanto Assad aguentará no poder, mas diz que "não vejo esse regime sobrevivendo por muito tempo".