O presidente do Iêmen vai assinar neste sábado (30) um acordo para deixar o poder em um mês, em troca de imunidade em um pacto que, se implementado, fará dele o terceiro líder árabe derrubado em uma onda de revoltas populares.

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Ali Abdullah Saleh, que comanda o país da Península Arábica há quase 33 anos, aceitou a princípio o acordo negociado por seus vizinhos exportadores de petróleo do Conselho de Cooperação do Golfo (CCG).

A principal coalizão de oposição do Iêmen, que inclui islamitas e esquerdistas, também concordou com o pacto, mesmo com manifestantes de rua tendo rejeitado a proposta e pedindo que Saleh deixe o poder imediatamente e enfrente um processo.

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Saleh, um perspicaz político, considerado há tempos um aliado dos Estados Unidos contra um braço da Al Qaeda no Iêmen, forçou os mediadores a dividir as cerimônias de assinatura do acordo em dois dias e rejeitou a presença de autoridades do Catar.

O primeiro-ministro do Catar foi o primeiro governante a dizer publicamente que o acordo do Golfo teria como objetivo a renúncia de Saleh, e a emissora de TV do país Al Jazeera foi apontada por Saleh como culpada por incitar a revolta no mundo árabe, balançado por protestos pró-democracia.

Enquanto o líder do Iêmen assina o pacto em Sanaa, o vice-presidente de seu partido vai viajar para a capital da Arábia Saudita, Riad, para a cerimônia oficial de assinatura da oposição neste domingo. Os opositores disseram que mais ações de violência podem arruinar o acordo.

O secretário-geral do CCG, Abdullatif al-Zayani, chegou a Sanaa para entregar o acordo a Saleh, para que ele o ratifique neste sábado, disse uma autoridade do governo.

Wayani também levou convites para que todos os lados participem, no domingo, da cerimônia oficial de assinatura em Riad.

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Violência no Sul

A violência voltou a ocorrer no sul do Iêmen antes da assinatura do acordo, quando homens armados mataram dois policiais e feriram outros dois na cidade portuária de Aden, informou a imprensa estatal. Testemunhas disseram que os agressores tentaram atacar uma delegacia de polícia e houve tiroteio. Também ocorreram conflitos do lado de fora de uma prisão próxima.

Pouco depois, as forças de segurança agiram para impedir um protesto contra o governo na mesma região, matando um manifestante e ferindo outros 50, afirmou Qassim Jamil, um médico local.

Os manifestantes fugiram, e tanques e veículos blindados estavam patrulhando as ruas, disseram testemunhas. Os feridos foram levados a hotéis próximos para tratamento, porque não conseguiam chegar aos hospitais, disse Jamil.

Especialistas afirmaram que o governo, que tenta conter separatistas no sul do país e rebeldes xiitas no norte, teme que os separatistas possam estar tentando aproveitar a crise do Iêmen para renovar os esforços de separação.

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Manifestantes dizem que permanecerão nas ruas até Saleh deixar o poder. Eles também pediram que o governante seja julgado por corrupção e pela morte de cerca de 143 manifestantes desde que os protestos começaram, há três meses.

O acordo do CCG oferece a Saleh e a seus assessores, inclusive parentes que comandam partes das forças armadas, imunidade de julgamento.

"O povo quer o julgamento do assassino", gritaram manifestantes em um protesto na sexta-feira, que acabou em uma procissão de funeral de 12 pessoas mortas em conflitos na quarta-feira. Milhares passaram os caixões de mão em mão até os túmulos.

Especialistas dizem que a janela de 30 dias para que Saleh renuncie dá tempo demais para que as enfadadas forças de segurança da velha guarda incitem problemas no Iêmen, onde metade da população tem uma arma e a Al Qaeda fixou uma base de operações nas regiões montanhosas.

Os Estados Unidos e a Arábia Saudita querem que o impasse seja resolvido para evitar um caos que pode fazer o braço da Al Qaeda no país operar mais livremente.

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Se o acordo for assinado, Saleh vai nomear um primeiro-ministro da oposição para chefiar um governo de transição, que estabeleceria uma eleição presidencial em 60 dias depois da renúncia.

Muitos manifestantes, desconfiados da coalizão de oposição devido à sua presença no governo em anos anteriores, pediram que ela recue no acordo.

"Eles não perderiam nada, porque Saleh não vai cumprir o acordo. Se ele não achar uma razão para revertê-lo, vai causar uma guerra," afirmou o manifestante Abdulsalam Mahmoud.