O presidente da França, Nicolas Sarkozy, aprofundou na quinta-feira (26) sua guinada política à direita, tentando seduzir o eleitorado que votou em Marine Le Pen no primeiro turno de domingo passado. Ele propôs que os policiais tenham mais liberdade para atirar ao perseguir suspeitos. Em um novo golpe para o presidente conservador, o desemprego na França alcançou em março seu maior nível desde setembro de 1999, atingindo 2,88 milhões de pessoas - alta de 7,2 por cento em relação a março de 2011, após 11 meses sucessivos de alta. Uma nova pesquisa do instituto TNS-Sofres, publicada a dez dias do segundo turno, aponta o socialista François Hollande com 55 por cento das intenções de voto, contra 45 por cento de Sarkozy, que deve se tornar assim o primeiro presidente francês em mais de 30 anos a perder uma disputa pela reeleição. Os dados da pesquisa mostram que Sarkozy não está tendo sucesso em cortejar os 6,4 milhões de franceses que optaram no primeiro turno pela candidata da Frente Nacional. Marine Le Pen, que deu à extrema direita o melhor resultado da sua história - 17,9 por cento - ainda pode tentar arrancar concessões de Sarkozy antes de anunciar, na semana que vem, sua posição para o segundo turno. O principal interesse dela no momento é formar uma bancada sólida na eleição parlamentar de junho.
Herança Tanto Hollande quanto Sarkozy tentam herdar os eleitores de Le Pen, mas Sarkozy faz o galanteio mais explícito, dizendo respeitar as pessoas que votaram em um partido que foi durante tanto tempo estigmatizado. A Frente Nacional não elege deputados desde 1986, quando a França fez uma experiência com a representação proporcional, e o partido elegeu 35 parlamentares. Agora, o voto é distrital puro, com dois turnos de votação, o que reduz as chances de partidos minoritários. "Num segundo turno entre a Frente Nacional e um socialista, o UMP (partido de Sarkozy) e o presidente preferem que seja eleito um dos meus deputados ou um socialista?", questionou a ex-candidata, cobrando do presidente um compromisso de não atrapalhar a campanha parlamentar da Frente Nacional. "Ainda não tenho uma resposta a essa questão. Estou esperando. A forma de me expressar vai depender da resposta", acrescentou Le Pen, que prometeu anunciar sua posição em 1o de maio, quando seu partido realiza uma celebração do "Dia de Joana D'Arc". Hollande tem acusado Sarkozy de estimular o crescimento da extrema direita ao imitar a postura agressiva da Frente Nacional em questões de imigração e identidade nacional.
Legítima defesa Na quinta-feira, o presidente adotou outra proposta de Le Pen, ao defender uma alteração na lei de modo a pressupor, até prova em contrário, a situação de legítima defesa quando um policial em serviço atira num suspeito. Ele fez a promessa depois de centenas de agentes fazerem uma manifestação com carros da polícia na avenida Champs-Elysées, em apoio a um colega que está sendo processado por homicídio depois de matar um fugitivo armado em um subúrbio parisiense. "Num Estado de direito, não podemos colocar no mesmo nível um policial fazendo seu trabalho e um violador da lei fazendo seu trabalho", disse Sarkozy a seguidores entusiasmados, que gritavam em coro: "Vamos ganhar!".
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