No último dia 19 de março, o satélite Swift, da Nasa, detectou uma explosão violenta no espaço sideral. Mas não qualquer explosão; um fenômeno conhecido como rajada de raios gama (ou "gamma-ray burst", em inglês). E não qualquer rajada de raios gama, mas uma que estava apontada diretamente na direção da Terra. Por conta disso, o fenômeno deve ter sido visível a olho nu.
Se o objeto que a emitiu estivesse suficientemente próximo, poderia ter cozinhado toda a vida existente em nosso planeta. "Se isso acontecesse em nossa galáxia, estaríamos numa grande encrenca", afirma David Burrows, líder da equipe do Swift.
Felizmente, ele estava a uma distância segura: nada menos que 7,5 bilhões de anos-luz. Para que se tenha uma idéia da distância, ela fica na metade do caminho entre nós e os objetos mais distantes que podem ser enxergados daqui.
O resultado, portanto, foi apenas um grande espetáculo astronômico. E, pelo fato de estar direcionada na direção da Terra, a rajada de raios gama batizada de GRB080319B foi a mais brilhante já observada. Tanto que as emissões em luz visível que acompanharam os raios gama for visíveis a olho nu. Ou seja, se você estivesse olhando para o céu na direção certa, na hora certa, poderia tê-lo enxergado.
"Ele foi visível por 40 segundos", relata, em entrevista coletiva, Judith Racusin, pós-graduanda da Universidade Estadual da Pensilvânia e primeira autora do estudo que relatou os resultados, na edição desta semana do periódico britânico "Nature".
Rede de observação
Sempre que o Swift detecta uma rajada de raios gama, a equipe responsável pelo satélite comunica a uma grande rede mundial de astrônomos, que então procede com a observação. Foi o que aconteceu no dia 19 de março. Mas graças às peculiaridades desse evento - com a orientação da rajada voltada para a Terra -, os resultados foram espetaculares.
"Foi o melhor conjunto de dados já obtido sobre a mais brilhante rajada de raios gama já observada", comemorou David Burrows. "Essas circunstâncias improváveis", completou Racusin, referindo-se ao alinhamento da rajada com a Terra, "nos permitiram ver esse objeto de um modo diferente."
Com as observações, os cientistas esperam entender melhor como acontecem essas rajadas de raios gama. Conhecidas como os eventos energeticamente mais potentes do universo, essas rajadas são produzidas quando uma estrela de alta massa entra em colapso e produz um buraco negro ou uma estrela de nêutrons.