Imagine comer à vontade toda macarronada, batata-frita, sanduíche e chocolate que passar pela sua frente e continuar sempre magro e saudável, sem precisar fazer qualquer exercício. É isso que acontece se um, e apenas um gene, o Nocturnin, for desativado, segundo cientistas americanos.
Por enquanto, o sonho só é realidade para camundongos, mas antes de sair por aí maldizendo o tal gene, saiba que ele pode ajudar a entender a delicada relação entre nosso peso e nosso relógio biológico. E, de quebra, ainda pode ser uma arma, no futuro, para combater a epidemia mundial de obesidade.
Ao desligar o Nocturnin, ou "Noc" como chamam os cientistas, o grupo liderado por Joseph Besharse, da Universidade de Winsconsin, descobriu que os roedores podiam comer apenas alimentos altamente gordurosos sem engordar, sem afetar o fígado e sem concentrar gordura na barriga. E mais, mesmo sendo um gene ligado ao relógio biológico, sua desativação não afetava em nada o comportamento dos animais ao longo de um ciclo diário.
O elo entre a obesidade e o relógio biológico já é conhecido há algum tempo, mas os detalhes dessa ligação ainda precisam ser melhor definidos. A proteína produzida pelo Nocturnin é encontrada em muitos tecidos, mas principalmente no fígado -- o que a coloca na posição ideal para controlar funções importantes desse ciclo. Foi para definir exatamente qual seria esse papel que os cientistas resolveram desativar o gene nas cobaias.
Em comparação com camundongos normais, os que foram modificados pelos pesquisadores só eram diferentes no peso que alcançavam quando se alimentavam com comidas com muita gordura. No mais, os dois grupos respondiam igualmente ao ciclo de luz do dia, se reproduziam normalmente e cresciam da mesma maneira. A velocidade do metabolismo também era a mesma, assim como os níveis de colesterol, triglicérides e glucose no sangue. A única explicação plausível, segundo os pesquisadores, é que a ausência do gene altera a absorção de gordura pelo intestino.
No texto do estudo, publicado na revista da Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos, a "PNAS", os cientistas afirmam que os resultados trazem "ferramentas importantes para o entendimento das relações" entre o relógio biológico e a obesidade. Eles acreditam que os estilos de vida mais irregulares e acelerados do mundo moderno podem alterar nosso ciclo natural, nos tornando mais sensíveis a dietas ricas em gordura e que o Nocturnin pode, no futuro, ajudar a combater problemas como esses.