O primeiro sequenciamento genético da variedade de ebola responsável pela atual epidemia na África mobilizou 58 cientistas, cinco dos quais mortos em serviço, infectados. O trabalho já está ajudando a entender como o patógeno cruzou a fronteira da Guiné para Serra Leoa.
Os novos dados sobre o genoma do ebola, além disso, ajudarão a atualizar os testes diagnósticos. O vírus sofre mutação à medida que passa de uma vítima à outra, e o perfil genético do patógeno precisa ser atualizado.
O genoma do ebola foi feito por cientistas do Instituto Broad, de Cambridge (EUA), com amostras coletadas por médicos de Kenema, em Serra Leoa. Lá trabalhavam os cinco cientistas que morreram. Os dados genéticos foram publicados na internet para os cientistas que queiram acessá-los, e um estudo liderado pela geneticista iraniano-americana Pardis Sabeti, sai na revista Science.
Uma das informações mais importantes que o trabalho propiciou foi a compreensão de como a epidemia entrou em Serra Leoa e se espalhou ali. Apesar de o surto ter começado na Guiné, todos os 78 pacientes que forneceram amostras de vírus para o estudo eram leoneses.
A análise confirmou que, em Serra Leoa, a epidemia começou com uma mulher que contraíra o vírus durante o funeral de um curandeiro na Guiné. Neste país, o paciente-zero, identificado por cientistas do Instituto Pasteur, da França, era um menino, que contraiu o vírus de maneira desconhecida.
O genoma realizado pelo Broad - um instituto compartilhado entre a Universidade Harvard e o Instituto de Tecnologia de Massachusetts - foi feito com amostras neutralizadas de vírus levadas da África para os EUA. Mesmo lidando com um material essencialmente morto, cientistas usaram aparatos de segurança por precaução.
O trabalho com os pacientes na África, porém, era de alto risco, pois os pesquisadores não estavam apenas coletando amostras de vírus. Estavam tratando as vítimas.
"Com aquela situação caótica e pessoas trabalhando o dia inteiro, vários pequenos erros cometidos durante o cuidado de pacientes de ebola podem levar à infecção", disse à reportagem Kristian Anderson, do Broad, um dos autores do estudo na Science.
O trabalho indica que a atual epidemia de ebola se iniciou com uma única pessoa infectada. Não houve nova contribuição de animais infectados, como havia ocorrido em epidemias passadas.
Ao analisar o genoma do vírus, Sabeti e seus colegas encontraram 395 mutações, que tornam essa variedade do ebola distinta de outras (mas, pela análise genética, não é possível dizer se ela é mais infecciosa ou severa).
Essa informação permitiu a montagem de uma árvore genealógica do patógeno, mostrando que o vírus que eclodiu na África Ocidental é aparentado com variedades de ebola que causaram duas outras epidemias, uma na República Democrática do Congo, em 2007, e outra no Gabão e no Congo, em 2001.
O vírus teria migrado da África Central para a África Ocidental num intervalo entre esses surtos, provavelmente em algum morcego.
Se biólogos conseguirem isolar vírus nesses animais, o genoma pode mostrar qual espécie é o reservatório permanente do ebola. Mas, na prática, pode ser preciso capturar muitos animais para tal. "Talvez haja poucos morcegos carregando o vírus, a baixos níveis e por pouco tempo", diz Andersen.
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